terça-feira, 15 de setembro de 2009

Uma hora e meia no DP

Uma hora e meia de chá de cadeira numa delegacia de polícia é suficiente para revelar uma triste realidade : é melhor nunca precisar da dita-cuja.

O chá de cadeira foi por causa de uma matéria. Sim, a informação poderia ter sido fornecida por telefone. Mas logo percebi: o delegado procurado não sabia responder o que perguntei. Então pediu para eu ir até lá, provavelmente para repassar a incumbência a algum subordinado.

Foi o que aconteceu.

Um investigador foi designado para me atender. Precisei esperar a tal uma hora e meia até a chegada dele da rua. Trata-se de um caso de crime virtual. A resposta: nós não apuramos isso. Por que? A polícia não tem estrutura para investigar crimes cometidos pela internet. Nem sabe como faz isso, praticamente não tem noção de como isso pode ser feito. Pelo menos em Bauru, na delegacia em que fui.

O funcionário público ficou um pouco acuado com a insistência das perguntas e foi falar com o delegado. Voltou com uma resposta padrão: estamos investigando, mas é difícil, a vítima precisar dar pistas. Vejam só: a vítima, além de ser vítima, precisar descobrir alguma forma de ajudar a polícia a fazer o trabalho dela.

Ainda precisei ouvir o investigador afirmar que, sem recorrer à violência, o que ele especificou com uma das mãos dando socos na outra, é difícil descobrir certos tipos de criminosos. Citou os pichadores, uma espécie de obsessão em Bauru.

Na hora e meia de espera, fui abordada por alguns dos presentes no DP, o que interpretei como vontade de conversar. Eu ali, parada, esperando, devo ter sido vista como um ouvido à disposição.

Um senhor, que já trabalhou na polícia, comentou sobre um antigo delegado de Bauru, já morto. Era conhecido pelo estilo, digamos, folclórico. E também por estar sempre na delegacia que chefiava. "Ele gostava da polícia", disse o senhor. "Gostava, gostava muito, gostava de verdade. Trabalhava até nos finais de semana. Aquele gostava", insistiu.

O delegado morto recentemente foi praticamente obrigado a se aposentar, parece que atrapalhava planos de alguém com mais poder.

A outra conversa foi com um senhor de roupas surradas, tênis e aparência sofredora. Contou ser dono de uma lanchonete. Passa, no momento, por um sufoco absurdo: um ex-presidiário recém-libertado vai ao local todo dia para comer, mas não quer pagar. E ameaça o pobre homem, que já pensa em se armar para não "cair primeiro". Meio incrédulo, ele foi procurar a ajuda da polícia. Registrou um burocrático boletim de ocorrências e saiu balançando a cabeça, como quem diz: "que mundo é esse".

Que mundo é esse?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Cheiro do Ralo

Descobri no final de semana. Sou uma ex-espectadora-que-preferia-o-cinema-ao-conforto-dos-DVDs. É não só por causa do tal conforto que minha opinião está em plena mutação, se bem que isso também conte.

É o seguinte: virei fã dos making offs, principalmente os brasileiros. E, no cinema, apesar de toda a magia da sala escura, da concentração total no filme, etc, não tem making off.

Um exemplo prático é "O Cheiro do Ralo". Gostei mais dos bastidores da produção do que do filme em si. Talvez precise assistir de novo após conhecer os detalhes. Por exemplo, as cores das roupas de Selton Mello foram escolhidas para lembrar a merda, que está presente no nome do filme, no cheiro que exala do tal ralo e na obsessão do protagonista, um homem apaixonado pela bunda de uma garçonete.

Fazer todas essas ligações e entender melhor a metáfora da história de um colecionador de coisas velhas, que não servem para nada, ou seja, merdas, no meu caso só foi possível depois de assistir o making off.

E é obrigatório conhecer a relação de Selton Mello com o filme, muito bem explicada nos extras do DVD. O ator leu o livro de Lourenço Mutarelli num avião, desembarcou e já ligou para o cineasta dizendo que queria, de qualquer forma, estrelar o filme. Precisou ser insistente para conseguir o papel, que define como o mais importante de sua carreira. Nos bastidores, aparece em cenas de entrega total e já com saudades, ao perceber que as filmagens estão no final.

A última cena filmada por Selton está no making off. Ele simplesmente deita na calçada, completamente emocionado, quando a produção chega ao final. Tem um impacto grande ver todo esse envolvimento de um ator. Principalmente em tempos de tão escassos envolvimentos, de tanta superficialidade.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Enganos

Estou com a incômoda sensação de ser enganada o tempo todo - e ter uma tendência a deixar que isso aconteça, numa espécie de inocência que dá raiva.

Sempre achei que as autoridades judiciais têm razão ao defender a "saidinha" dos presos com bom comportamento em datas como o Dia das Mães, dos Pais, Natal, etc. Afinal, presos são pessoas em processo de recuperação, precisam se ressocializar para um dia voltar a viver no meio de gente comum.

De uns anos para cá, no entanto, aumentou a associação entre crimes e o período da tal "saidinha". Ficou comprovado: não são todos, claro, mas há presos que saem para rever a família e praticam crimes no meio do caminho. Aí, é fácil deduzir: não são apenas os bem comportados que saem para a rua.

Hoje tive a certeza que fui boba ao acreditar nos argumentos oficiais. Conclui isso após assistir ao vídeo de uma emissora da Bahia que mostra o estuprador que sequestrou uma pediatra e a filha dela de um ano, tentou violentá-la e a atropelou depois que a mulher reagiu e tentou salvar o bebê, que estava no carro dirigido pelo bandido. Ele circulava por causa da "saidinha" do Dia dos Pais. Era um criminoso perigoso, autor de vários estupros, já havia atacado mulheres no mesmo shopping em que abordou a médica. Solto e frio a ponto de matar uma mãe na frente de sua filha pequena.

Também me sinto enganada em relação à gripe suína. Acreditei nas estatísticas divulgadas pelas autoridades de saúde. Elas diziam - e ainda dizem - que a nova gripe é semelhante à comum em número de pessoas contaminadas e mortes. Agora, o que vejo são medicos desesperados porque os hospitais e pronto-socorros não conseguem atender todo mundo que chega doente. E eles, os médicos e as autoridades de saúde, ainda não sabem explicar porque a nova gripe atinge com força pessoas jovens e grávidas, muitas grávidas.

Estão assustados, como quase todo mundo, apesar das estatísticas que gostam de divulgar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

República

É irritante, nojento, tudo de ruim que possa existir. Renan Calheiros (PMDB-AL) está, neste momento, lavando roupa suja do Senado. O "nobre" parlamentar fala ao vivo, em sessão transmitida pela emissora oficial da Casa. É nojento o que ele relata, são nojentos os motivos que o levam a denunciar outro senador e é nojenta a figura do ex-aliado de Collor, depois de FHC e agora de Lula.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Como pode?

O relato de uma amiga sobre a morte de Jacqueline Ruas, 15 anos, na volta da Disney, é tão impressionante que só uma coisa a fazer depois dele: proibir a empresa de turismo de continuar levando crianças e adolescentes sem os pais para os EUA.

Jacqueline passou mal durante uma semana, não conseguia andar na Disney, na escala do Panamá precisou de uma cadeira de rodas, dormia o tempo todo e, no avião, tinha dificuldade para abrir os olhos ao ser chamada pelas amigas, todas recém-saídas da infância.

Para completar, ainda foi carregada pelos pés e braços depois de morta, passou pelo corredor desse jeito na frente de centenas de crianças e adolescentes que choravam sem parar.

Absurdo, absurdo, absurdo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O coração de Heraldo

Morreu em Bauru o cirurgião-dentista Heraldo Riehl, especialista em dentística, um pesquisador do clareamento dental. Heraldo, que estava com 40 anos, tinha um coração transplantado desde 2003, quando passou 47 dias na UTI à espera de um doador. Era considerado um caso bem sucedido de transplante: chegou a ser campeão de tênis com o coração novo e trabalhava normalmente. Tinha três filhos, meninos ainda pequenos. Uma pena o coração dele não ter resistido mais tempo. Ele era um exemplo de que a vida pode recomeçar.

A gripe e os jornalistas

Tenho lido e ouvido muitas críticas à imprensa por causa da divulgação da gripe suína. Jornalistas são chamados de alarmistas, sensacionalistas, etc. Há quem acredite que a nova gripe seja divulgada, em manchetes, só para vender jornal. Como se repórteres ficassem nas redações calculando quanto uma notícia vai render em dinheiro... Juro que não é assim.

Não sou do tipo apavorada com a nova gripe e já li dezenas de estatísticas mostrando que ela mata tanto quanto a gripe normal, chamada pelos médicos de sazonal. Também já entrevistei profissionais de saúde dizendo que a gripe suína chama mais a atenção porque é monitorada diariamente pela imprensa, o que não acontece com a outra. Faz sentido.

Mas também vejo médicos especialistas cada dia mais preocupados. Porque a gripe avança, isso não dá para negar. E causa mortes no mínimo estranhas, de gente bem jovem. Sim, a maioria tem alguma outra doença de base, mas são pessoas muito novas. No caso da primeira morte registrada em Bauru, a vítima é uma moça de 22 anos. Era diabética, mas quantas pessoas diabéticas não estão por aí, levando a vida normalmente? Outra coisa: eu nunca tinha ouvido falar que gripe mata grávidas. Alguém já tinha?

Enfim, trata-se de uma doença que ainda não parece bem compreendida, inclusive pela classe médica. Autoridades de saúde pedem calma, mas ao mesmo tempo recomendam que hospitais ou postos de saúde sejam procurados se os sintomas aparecerem. A gripe suína é tratada oficialmente como semelhante à gripe normal, mas o Ministério da Saúde dedica quase todo o seu site para combatê-la e desenvolveu uma campanha institucional. Não é para entrar em pânico, mas as aulas foram suspensas em todo o Estado por recomendação do governo estadual.

Não são os jornalistas que criam uma situação surreal, a coisa está esquisita mesmo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O seminário

Por causa de uma matéria, circulei pelo Seminário Santo Antônio, em Agudos. É um lugar belo e misterioso.

"Trabalho aqui há mais de um ano e ainda me perco", disse o funcionário que me acompanhou.

Ele abria portas e não sabia direito onde elas iam dar. Tive a impressão que algumas estão fechadas há muito tempo. Minha vontade foi de abrir todas, para ver o que tinha do outro lado.

Fundado por frades franciscanos em 1950, o seminário ainda hoje funciona como escola religiosa e internato. Abriga cinco freis idosos, que ali passam a fase final da vida. Com várias alas de dormitórios, salas de reuniões, refeitório, salão nobre, bosque, piscina e igreja, também é sede de encontros agendados previamente.

No meu caso, o que fascina é a arquitetura grandiosa e o passado do lugar. Construído na sede da antiga fazenda Santo Antônio, o seminário já foi lotado de jovens estudantes, futuros reliosos. Chegou a ter 400 seminaristas. Hoje não chegam a 40, quase todos da região sul do país, origem da Província, ordem religiosa dos frades.

Chegar no seminário é perceber que ali a vida é diferente por causa de um detalhe: o silêncio, impressionante. Tem também a beleza da natureza que o rodeia. E a imaginação, estimulada pelo cenário: como será viver ali, longe do mundo "real"?

Uma das entrevistas para minha matéria foi feita na igreja, onde está o famoso órgão de tubos construído pelo frei alemão Friedrich Schürle. No meio da conversa, entrou uma mulher, já idosa, figurino de religiosa, com vassoura e balde na mão, para esfregar o chão já limpíssimo do templo.

Parecia uma personagem de algum conto de fadas.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O que vão pensar?

Gosto muito de arquitetura histórica. Em São Paulo, sou capaz de andar horas pela região central só admirando os prédios construídos em outras épocas. São bem mais bonitos que os modernos, não tenho dúvida. Em locais como o Pelourinho, de Salvador, e os centros de Paraty e Ouro Preto cada porta, cada telha antiga merece meus olhares demorados.

Tenho também uma estranha atração por ruínas. Até hoje tenho dúvidas se preferia o Pelourinho antigo, sem restauração e ocupado por populares, ao bairro turístico em que se transformou. Claro, ruínas um dia desmoronam e prédios históricos precisam ser restaurados. Mas não nego que gosto de ver um casarão contar sua trajetória por meio das paredes em transformação, sem inteferências do homem.

Foi esse tipo de interesse que me motivou a escrever uma série de matérias sobre estações ferroviárias de São Paulo (série agora premiada pela rede BOM DIA de jornais). Mas não foi a arquitetura das estações (todas belas, em ruínas ou restauradas) o que achei mais incrível e sim a trajetória de pessoas envolvidas com o patrimônio público (e abandonado) ao ponto de assumir a função de guardá-los. Acho que foi isso também que inspirou os jurados do prêmio a escolher a série.

Comecei por Pirajuí, cidade onde nasci e em que, na infância, via a estação ferroviária envolvida num certo mistério, um lugar distante e onde de vez em quando passavam os trens tão esperados pelas crianças.

Lá levei o primeiro "choque" de humanidade. Ouvi de um velho ferroviário aposentado, morador da colônia em frente à estação, que ele tinha vergonha do mato que crescia nos trilhos localizados ao lado. No passado, era o agora aposentado que trabalhava na limpeza. A ferrovia foi entregue ao setor privado e ninguém mais se preocupou com isso. O mato cresceu à vontade ao longo dos antes impecáveis trilhos.

Pois o velho aposentado não se conformou e, por conta própria, decidiu retomar o serviço do passado, mesmo sem ganhar nada. A explicação: "E se alguém passa e vê a sujeira, bem em frente a minha casa? O que vão pensar de mim?"

terça-feira, 21 de julho de 2009

A agenda

Os vereadores de Bauru precisam torcer para que pouca gente assista, pela TV, a transmissão das sessões legislativas. Eu assisti ontem e a sensação é de que vi algo ridículo. Não encontro outra palavra para definir a longa discussão sobre datas propostas pela prefeitura para comemorar o meio ambiente.

A agenda ecológica provocou o primeiro "grande" embate entre situação e oposição na atual administração, com vitória para os apoiadores do prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB).

Sinal de que a situação no Legislativo é realmente muito crítica - o assunto mais impactante da atual legislatura foi, até agora, a proposta de datas comemorativas para a cidade...

Ouvi parlamentares declarando que não basta criar uma agenda para resolver os problemas do meio ambiente. Óbvio que não! Alguém acredita que o prefeito, ambientalista desde criancinha, criou a tal agenda para resolver alguma coisa?

É esperado que parlamentares cobrem ações e queiram mais detalhes sobre os projetos ambientais do governo, que não são restritos à agenda e passam pelo tratamento do esgoto, a arborização, a ampliação do zoológico, etc. Eles tem todo o direito de protestar caso não consigam essas informações, o que não parece ser o caso. A própria Câmara debateu recentemente alternativas para tratar o esgoto.

Também podem criticar e votar contra à agora famosa agenda ambiental - realmente estabelecer datas comemorativas não significa muito para a cidade. O projeto pode ser chamado de penduricalho, como tantos votados pela Câmara.

Mas não foi simplesmente isso que aconteceu ontem à tarde. Vereadores trataram o caso como uma medição de forças com o Executivo. E gastaram o tempo, que deveria ser precioso no Legislativo, para debater um assunto que sequer preocupa a população.

Alguns parlamentares são altos, falam grosso e tem conteúdo intectual para mostrar aos eleitores. Sinto muito, mas deu vontade de rir (para não chorar) assistir esses atributos sendo usados com veemência para discutir o dia da árvore...

Pior ainda o que ficou nas entrelinhas. Num discurso, vereador da oposição desafiou: essa votação vai mostrar quem é quem. Um ouvinte mais ingênuo poderia achar que tratava-se de mostrar quem defende a natureza e que não está nem aí. Nada disso. Ele queria dizer que a votação mostraria quem vota com o prefeito - e tem cargos na administração ou espera (muiiito) ter. A velha conhecida troca de favores.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Augusta

Quase todo mundo lembra de Ângela Rô Rô inchada, desbocada, sempre meio bêbada. Ela não é mais assim, já há alguns anos. A cantora percebeu que não sobreviveria muito tempo à avalanche de drogras e álcool.

Vi Ângela Rô Rô no último final de semana. Não num show, mas num hotel, em que eu também estava hospedada, em plena rua Augusta, região central de São Paulo. Ela hoje é uma mulher enxuta, fala baixo, quando a vi dava uma entrevista a equipe da TV Globo, no saguão do tal hotel.

Escolhi a rua Augusta por causa do preço das diárias e da localização. Achava que o hotel ficava perto da região da avenida Paulista, centro de cultura e lazer que adoro frequentar em São Paulo. Não era longe, nem tão perto. Fiquei mais próxima do Centro, da Praça Roosevelt, no mesmo hotel que a cantora das antigas baixarias... e adorei.

Uma amiga resumiu: o que encanta naquele trecho da Augusta é a mistura do velho com o novo, os inferninhos e as boates moderninhas, travestis que fazem ponto e gays chiques do Frei Caneca...

Foi nesta Augusta que fez sucesso o Spazio Pirandello, um bar-restaurante que reunia todas as noites escritores, poetas, artistas de teatro, músicos e outras tribos boêmias.

Ignácio de Loyola Brandão é autor de um texto delicioso sobre o espaço, que infelizmente não conheci. Num dos trechos, fala de brigas famosas de duas cantoras, na época namoradas. Uma delas era Ângela Rô Rô.

Descendo mais um pouco, o que encontramos é uma São Paulo em pleno processo de revitalização. Acho apaixonante o que acontece na Praça Roosevelt, há pouco anos local impossível de frequentar por causa dos perigos diurnos e noturnos. Hoje sete grupos de teatro tem suas sedes ali. Nas calçadas, bares também ligados aos artistas deixam o trecho movimentado e bem mais seguro. Tem também outros espaços culturais, dá vontade de ficar muito tempo por lá.

A minha amiga mora ali, em plena praça, num apartamento antigo, em cima dos teatros. Acho um privilégio respeirar esse ar.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

É isso

É isso que eu queria ter escrito:

O circo foi genuinamento emocionante
Bia Abramo
Colunista da Folha


"Havia Michaels para todos os discursos na cerimônia de despedida. Era só chamar seu nome e ele estava lá. Gênio e maior showman da Terra, segundo o chefão da Motown, Berry Gordy. Ídolo de músicos como Stevie Wonder e Smokey Robinson. MJ como símbolo do empoderamento negro, homenageado pelos herdeiros políticos de Martin Luther King. O pequeno príncipe, amigo da princesinha Brooke Shields. O melhor pai do mundo, segundo a filha.

Que haveria circo, como disse a musa inspiradora e amiga Elizabeth Taylor, não podia haver muita dúvida. O espetáculo era parte integrante da vida de MJ e não haveria de estar ausente justo no epílogo. A atenção global também era mais do que esperada -ele, afinal, era o mundo, a criança, aquele que fazia o dia mais luminoso.

Como se fosse ‘o’ show para ficar no lugar dos 50 que ele não pôde cumprir, a cerimônia foi cuidadosamente pensada e coreografada. A família devidamente uniformizada com óculos escuros. Os irmãos com as famosas luvas. As crianças dele sem panos a ocultá-las. Tudo isso parecia estar no script.

Mas era bem mais difícil prever que fosse genuinamente emocionante. Que ver os irmãos enlutados, os Jacksons restantes, fosse tocante. Que rever o inacreditável chapéu rosa que ele usava 40 anos atrás no programa de Ed Sullivan fizesse relembrar a vontade de namorar Michael Jackson que eu tinha aos 11 anos, quando ouvia ‘Music and Me’. Que soasse justa a homenagem a MJ como um símbolo da grandeza da música pop negra nos Estados Unidos, cujo papel é fundamental para que a América tenha hoje Obama.

Aquilo que pegou muita gente, eu inclusive, de calças curtas foi a tristeza de verdade causada por sua morte, para além de qualquer cinismo midiático. Na cerimônia de ontem, por algum daqueles fenômenos pop inexplicáveis, o artifício que cercou sua vida pôde ser ao menos parcialmente abandonado. E, desta forma, havia ali também um Michael para cada tristeza. Inclusive a minha. E a sua."



terça-feira, 7 de julho de 2009

O fim

Apesar do show, do grande e quase inacreditável espetáculo, a despedida dos irmãos e da filha parecia a de uma família comum: lembranças de casos da infância, desagravo, declarações de amor, recomendação de abraço a quem já partiu, lágrimas... E foi Paris, a filha de 11 anos, a grande estrela. Fez uma despedida sem ensaios e muito emocionada, com sua voz de criança e seu olhar tristonho.

O show

Que me desculpem os cansados do assunto, mas é impossível não se emocionar com essa despedida a Michal Jackson. Emoções de vários tipos: espanto, tristeza, surpresa, uma sensação de nunca ter visto isso antes. Nunca vi mesmo. Um velório que é um show.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ben

Às vezes sinto uma necessidade grande de escrever sobre determinado assunto. E escrevo, a mão mesmo, em caderninhos. Nem sempre publico. Muitas vezes jogo fora. Aconteceu ontem. O assunto era Michael, mas ninguém mais aguenta divagar sobre o destino triste do ídolo pop. Aí decidi jogar fora.

O que escrevi - e aqui vou apenas resumir - é que a trilha sonora da morte é, para mim, bastante melancólica. "Ben" é a música que mais ouvi nesses dias na TV, nas rádios, na rua, vindo de algum carro. Quando a gravou, ele ainda era um menino. Falava da amizade, parece que por um ratinho, o Ben.

Aquela voz de menino, tão promissora, já escondia o lado B do astro. Já começava a revelar sua trajetória de criança doente - para sempre. Nada é mais comovente que uma criança doente.

Fantástico

Um amigo jornalista comenta: Bauru viveu anos na lama devido aos casos de corrupção na Prefeitura e Câmara. Muita gente respondeu processo, aconteceram cassações e até prisões. Carreiras políticas terminaram nesse período, felizmente. Há alguns anos o cenário mudou. Desde a posse do ex-prefeito Tuga Angerami e agora, com Rodrigo Agostinho, o debate é em torno de obras e realizações administrativas e não de quem e como roubou. E tinha que vir parar logo aqui um delegado acusado de práticas nojentas, para dizer o mínimo? Tudo bem, ele já foi embora. Mas e os restos que deixou? Como acreditar na polícia se o chefe tem esse tipo de comportamento? E a exposição nacional, mais uma vez, de Bauru, agora sede de corrupção entre os homens pagos para garantir o funcionamento da lei?

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Emocionante, também no "Fantástico" de ontem, o depoimento do ator Felipe Camargo. Ele conseguiu controlar o alcoolismo e parar de usar drogas ao entender que estava construindo uma história de vida equivocada. Queria mais do que aquele destino de homem sem rumo. Disse, entre lágrimas, que o filho ajudou no processo de recuperação.

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No mesmo programa, muito engraçada a cena de Regina Casé dialogando com ela mesma em dois papéis: o dela mesma, como apresentadora, e de uma fã que volta da hidroginástica e atrapalha a gravação com suas frases padrão.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Durval

Após ler as críticas a "Durval Discos", o primeiro longa de Anna Muylaert, o que ficou registrado na minha memória foi a história de um vendedor de vinil que se recusa a aderir à era do CD, hoje em plena decadência. Achei que só era isso: um filme poético e até saudosista sobre as transformações rápidas - e até assustadoras -da indústrial cultural.

Só agora assisti a cópia em DVD e levei um susto. A loja fictícia, com cara de antiga, em plena Teodoro Sampaio, Pinheiros, São Paulo, foi inspirada no mundo real. Edgar é um vendedor de vinil que resistiu - ou resiste, não sei - às mudança que batem em sua porta, todos os dias. Inspirou Durval, com cara de hippie, roupas surradas e roqueiras, popular na região em que mora. Tem uma mãe também daquelas de antigamente, que cozinham todos os dias para o filho, já crescido, mas ainda tratado como um molequão.

Só que o filme tem uma virada que eu não esperava. O que, preciso reconhecer, faz toda a diferença. Como uma hora e meia de projeção iria se sustentar apenas com a história da loja à beira da falência? O que o longa mostra, além da solidão de quem resiste às mudanças drásticas, é a solidão de quem precisa encontrar motivações para a fase final da trajetória, no caso a mãe do amante dos vinis. Ela encontra uma criança, deixada na casa em que vive por motivos depois esclarecidos, e que vira a razão de sua vida.

Há humor, tensão e bizarrice em "Durval". Há loucura também. É ficção, mas dá para reconhecer pitadas do mundo real. Solidões que a gente vê por aí.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Saguis

Fui entrevistar o professor Osmar Cavassan, da Unesp-Bauru, e ganhei uma aula sobre o cerrado. O campus está numa área de cerrado e, durante a entrevista, apareceram uns saguis na janela da sala. Achei demais. Saguis pulando nos galhos das árvores combinavam com o tema da matéria.

Estava enganada e desinformada. Os saguis não tem nada a ver com o cerrado. Pelo contrário. Em Bauru - e especialmente no campus da Unesp - viraram uma praga.

Eles provavelmente vieram de algum cativeiro - soltos de propósito ou fugitivos. No cerrado, encontraram alimentação e não tem predadores. O resultado: o desequilibrio. São muitos e comem pequenos animais do habitat que invadiram.

Além disso, no campus, há casos de atropelamentos e de panes na rede elétrica provocada por saguis.

Eles são bonitinhos e provocam encantamento - não é todo dia que a gente vê macaquinhos pulando de árvore em árvore. Mas não deveriam estar ali.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sem coração

Michael, Michael... Até o funeral, sem data e local revelados até agora, o mundo vai falar de Michael Jackson. A morte provocou uma tristeza coletiva por ressaltar, mais uma vez, que a vida de ídolo não combina com a vida real. É impressionante a lista de grandes ídolos mortos devido aos efeitos das substâncias ingeridas para diminuir as dores (do corpo e da alma): Elvis, Marylin, Elis, Carmem Miranda, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Cássia Eller... É impressionante saber que o enorme talento não gera felicidade.

E as notícias revelam bastidores cruéis: o rei do pop era, no fim da vida, um homem de 50 quilos, voz fraca, cheio de cicatrizes e com o estômago lotado de medicamentos e vazio de comida. Deixou três filhos pequenos que já começam a ser disputados e estavam em casa quando o pai morreu, simplesmente porque o coração não aguentou a carga pesadíssima.

Triste também rever uma entrevista de Michael em que ele fala de sua infância de estrela pop. Apanhava do pai e era chamado de feio. Agora, o pai foi o primeiro a aparecer e a falar, sem marcas de tristeza no rosto. Tenho pena do Michael criança, que cresceu e virou um adulto muito perturbado. Tenho pena de todas as crianças que sofrem por causa de pais e mães sem coração.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A estrela

O mais melancólico e ver as imagens de Michael Jackson criança, já cantor, já estrela. Por que tantos artistas que viram astros têm mortes precoces e trágicas? Ele poderia ter brilhado a vida inteira, por causa do talento. No entanto, teve uma vida tortuosa, massacrante. Difícil compreender.

* Fátima Bernardes disse no JN que, como adora dança, já quis ser Michael Jackson.

As capas

Além de congestionar e travar o google e o twitter, a morte de Michal Jackson fez jornalistas do mundo inteiro pensarem, rápido, sobre a capa que dariam para a morte do astro pop. Alguns pensarem bem, outros nem tanto. Não é fácil ser criativo sob a pressão do relógio e com uma notícia que estava em todas as mídias, exploradas de todas as formas. Alguns jornais conseguiram.

Um deles, o Meia Hora, do Rio, radicalizou. Foi macabro, mas não dá para negar a criatividade. Quando Clodovil morreu, o mesmo jornal deu uma manchete colorida, quase brilhante: "Virou Purpurina".

Outro jornal popular do Rio, o "Extra", também tentou ser criativo. Deu uma capa preta, só com uma luva prateada, e as datas de nascimento e morte de Michael. Hummmm... Acho que faltou um pouco de produção, o resultado parece meio tosco.

No "Zero Hora", de Porto Alegre, o ídolo aparece entre nuvens, dando show. A edição está boa. Logo abaixo de Michael tem chamada grande para entrevista exclusiva do presidente Lula, falando de Dilma e de ajuda aos pobres.

Gostei dos critérios usados na capa do "Diário de S. Paulo", o jornal popular do grupo Globo na capital paulista. Tem informações quentes e menos óbvias que os demais, como a dívida milionária deixada pelo astro. E traz, pequena, a foto de Michael entubado, durante o atendimento médico. Não sejamos hipócritas: é uma imagem que todo mundo queria ver. O jornal também resgata a história de fã de atropelamento por comitiva do cantor, no Brasil.

Não vou citar os grandes jornais, todos com notícias e fotos bem padrão e com a informação que todo mundo já tinha lido na internet e visto na TV. Dá para perceber que os jornais populares - e menores - têm mais margem para a criatividade. O que, imagino, é a saída para os tempos de jornalismo online, de informação instântanea. Jornais impressos precisam encontrar maneiras de sobreviver aos novos tempos. Alguns não vão conseguir.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pelourinho

O que eu mais gosto é o clip gravado no Pelourinho, Salvador. Michael com os tambores do Olodum, no ritmo negro da Bahia. Começa com um grito: "Michael, Michael, eles não ligam para a gente". Bonito demais.

Até o fim

Marcelo Tas comenta que até o anúncio da morte de Michael Jackson foi bizarro. Morreu, não morreu, está em coma, não respira, o coração parou... Mas lembra também que o legado maior é mesmo a música.

Triste

"Além de branco ficou triste" (Gilberto Gil)

Youtube tem canal de clips de Michael.

Michael

A notícia da morte de Michael Jackson é do tipo que mobiliza as redações. Astro mundial, de talento inegável e comportamento bizarro, teve uma parada cardíaca em casa. A morte dele foi anunciada por um site especializado em notícias de celebridades. Imediatamente, outros sites ao redor do mundo repetiram a notícia, citando como fonte o site. Ficou a dúvida. Ele morreu mesmo ou o tal site errou? No Twitter, a informação dominou os posts. Todo mundo falando da morte e citando suas fontes, todas consultadas via internet. Na TV, dá para ver uma multidão de jornalistas na porta do hospital.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

As árvores

Bauru tem uma lei que permite a imunização de árvores contra o corte. Tombadas pelo patrimônio ambiental, elas têm a integridade preservada. Quem se atrever a desobedecer comete crime e fica sujeito inclusive à detenção.

Em 2007 fui pautada para uma matéria com a história de três árvores recém-tombadas. Gostei da idéia, mas me preparei para um dia inteiro de peregrinação em busca de personagens. Me vi batendo nas casas, abordando as pessoas na rua, implorando entrevistas sobre suas relações com as árvores imunizadas.

Estava enganada.

Em minutos encontrei pessoas dispostas a contar suas histórias com as três árvores. Todas interessantes, até poéticas. E fui obrigada a constatar uma triste realidade: eu pouco olho para as árvores no meio do caminho, só percebi a beleza de algumas delas por causa da matéria.

Uma das imunizadas tem o nome de guapuruvu, uma altura impressionante e fica no Jardim da Grama, periferia de Bauru. Eu nem sabia que existiam árvores tão altas em plena zona urbana. Fiquei olhando, surpresa. O guapuruvu já havia sido alvo de uma vizinha infeliz, insatisfeita com as folhas caídas na calçada. Ela tentava derrubar a linda árvore. E as crianças do bairro reagiam, até com pedradas no portão da mulher. Ela achou melhor ir embora, para ficar longe dos moleques e do guapuruvu. Sorte de todo mundo.

Dia desses, encontrei novos amantes de árvores. O Mary Dota é um dos bairros menos arborizados da cidade. Foi planejado com calçadas estreitas, o que dificulta o plantio. Mas lá no bairro tem uma rua em que quase todos os vizinhos são plantadores. Eles moram em frente a uma área verde, que reflorestam por conta própria. Têm uma relação de amor por cada muda plantada, regada e admirada.

Está nessa rua um pau-Brasil ainda pequeno, plantado há três anos. É uma das mais novas árvores tombadas da cidade. Tata, a responsável pelo plantio, sonhava com a espécie tão relacionada à história do país. Agora só quer ver sua árvore crescer bonita e em paz.

Perfumaria

Tem palavras e expressões que odeio, outras gosto muito. Odeio a expressão "prata da casa". Acho cafona, bairrista, boba mesmo. Gosto de perfumaria, descobri agora. Perfumaria com o significado de fábrica ou loja de perfumes mesmo e não de coisa banal, sem importância.

Amanhã vou entrevistar um engenheiro que tem escritório atrás de uma loja de perfumes, uma perfumaria. Por isso redescobri a palavra.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Diário do Araguaia

O jornal Estado de S. Paulo publica uma série de matérias com revelações extraídas de relatório assinado por Sebastião Curió, hoje militar da reserva, um dos líderes da repressão à Guerrilha do Araguaia. A revelação mais impactante até agora é que os militares executavam os guerrilheiros já dominados e presos e não em combate.

Revelação porque está escrito, documentado. Até agora os dados oficiais sobre a guerrilha, ocorrida na década de 70, permanecem secretos. Nem Fernando Henrique nem Lula tiveram coragem suficiente para enfrentar as Forças Armadas e abrir os arquivos. Mas as famílias dos mortos na região norte do país têm, a muito tempo, certeza sobre a execução de grande parte dos militantes. Depoimentos de sobreviventes e de moradores da região já haviam reconstruído cenas de terror.

Lembro de Clóvis Petit, irmão de Maria Lúcia Petit, a única que teve os restos mortais reconhecidos e entregues à família, na cerimônia em homenagem à irmã, realizada em Bauru na década de 90. Chorando, ele descrevia a cena da jovem comunista dominada e executada por militares super-armados.

A Guerrilha do Araguaia é responsável pelo surgimento de uma das personagens mais emocionantes da história brasileira: a costureira Julieta Petit, que esperou, em Bauru, a volta dos três filhos.

Mulher simples, criada na região, onde teve seus cinco filhos, Julieta não sabia onde Lúcio, Maria Lúcia e Jaime estavam. Depois da anistia, esperou a volta. Acreditava que os filhos estavam livres para circular normalmente e rever a mãe. Todos os exilados voltaram, os três não. Não estavam exilados, estavam mortos. Só então ela soube o que acontecera e virou símbolo de outra luta: o resgate dos corpos e a entrega aos familiares, para o enterro.

Julieta teve a saga reconhecida e homenageada, foi indenizada, mas conseguiu enterrar apenas Maria Lúcia. Morreu sem ter a chance de encontrar os outros dois. A velha senhora está enterrada em Bauru, no mesmo túmulo da filha. É para onde vão Lúcio e Jaime, caso o governo brasileiro um dia resolva de fato revelar onde estão os restos mortais que precisam ser devolvidas às famílias.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Prefeito ambientalista

Achei triste ver Rodrigo Agostinho assistir ao anúncio da volta do rodeio a Bauru sem sequer reclamar. Lógico, ele é prefeito e precisava estar no evento de lançamento da Grand Expo 2009. Também não deve ter instrumentos para impedir o tal rodeio. Mas podia falar pelo menos uma frase de protesto, deixar claro que é contra a violência contra animais. Não custava nada.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chico

Chico Buarque faz 65 anos hoje. Já??? Ele é outro medo profissional, lembrei agora. Acho que não conseguiria entrevistar Chico Buarque. Sou muito fã.

Som & Fúria

Impressionante a história do ator Perry Salles, ex-marido de Vera Fischer, morto de câncer na última quarta-feira e cremado hoje. Perry teve uma forte depressão nos anos 90, quando já estava separado de Vera e perdera um filho, morto em acidente de moto. Trancou-se num pequeno teatro que havia comprado em Salvador, ficou cabeludo, barbudo, parou de tomar banho. Só saía de vez em quando para comprar carne moída e macarrão, sua única refeição no período de imersão.

Nos últimos anos, voltou a se aproximar de Vera, desta vez como grande amigo. Foi na casa dela que o ator passou os últimos meses, na fase final da doença. Na TV, ele foi Laio, na novela em que Vera era Jocasta e Felipe Camargo interpretou Édipo. Todo mundo sabe que a vida imitou a arte e Jocasta e Édipo se apaixonaram de verdade. Laio ficou sozinho.

Além da ironia do destino, impressiona a imagem de um ator em decadência trancado num teatro sombrio, sozinho, sem contato com ninguém, em plena cidade ensolarada de Salvador, Bahia.

Vera, que também viveu um período de escuridão, hoje tem um papel para lá de apagado em "Caminho das Índias". Sempre que assisto sinto pena. A outra ponta do triângulo, Felipe Camargo, não escapou. Mergulhou nas drogas e na bebida, voltou à tona, mas perdeu a chance de ser um ator brilhante que sua estréia, em "Anos Dourados", antecipara. Parece que voltará a ter destaque. Fernando Meirelles o escolheu para protagonizar a minissérie "Som & Fúria", da Globo. Acredita que todo mundo vai gostar. O Édipo promete surpreender.

Coisa velha

Parece que o PTB de Bauru decidir ir para a oposição ao prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB) e abrir mão dos cargos que poderia ganhar na ainda não criada Secretaria de Turismo. Rodrigo deveria comemorar. Se livra do ônus de criar uma secretaria que não tem justificativa para existir. E da aliança de gente que não esconde que só vota a favor se ganhar cargo. Pelo amor [de Deus], como diz minha filha. Isso é muito antigo. E ainda tão atual...

Futebol

Tenho um medo profissional. Precisar, algum dia, cobrir um jogo de futebol. O que vou fazer se não entendo nada do que acontece em campo e não tenho o menor interesse? De futebol, só gosto das crônicas que o Chico Buarque escreve de vez em quando. Ah, e de ver a torcida enlouquecida do Corinthians. A torcida, nunca os jogadores.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Outro episódio

Ah, tem mais uma coisa que gosto no Serra. Ele enfrenta forças poderosas quando tem uma convicção. Vi isso uma vez em Itaici, em reunião da Pastoral da Saúde da Igreja Católica.

Era uma reunião grande, com presença de bispos, muitos padres, leigos, profissionais da saúde e representante oficial do Vaticano. O assunto: a posição conservadora - e absurda! - da igreja em relação ao uso da camisinha.

Os católicos que trabalham no dia-a-dia com portadores do vírus HIV concluíram que estava na hora da igreja defender o uso da camisinha como forma de combater a doença. Prepararam até material impresso com essa orientação. Distribuíram o material e fizeram discursos inteligentes sobre o tema.

Até a chegada do representante do Vaticano, que mudou tudo. O material sumiu, os discursos mudaram, a igreja brasileira vergonhosamente voltou atrás e passou a criticar o uso da camisinha, como faz o pré-histórico Vaticano.

Então ministro da Saúde, Serra participou do evento e, dentro dos domínios poderosos do catolicismo, reafirmou o que todo mundo sabe - ou deveria saber: a camisinha deve ser usada para prevenir o contágio da Aids sim e os religiosos de todos os naipes falam besteira quando divulgam o contrário.

Foi importante a fala dele, assim como a de D. Paulo Evaristo, que discursou defendendo a vida.

Hatoum e Serra

O escritor Milton Hatoum estará hoje à noite em Pederneiras, para um bate-papo que faz parte do projeto "Viagem Literária", do governo do Estado.

"Dois Irmãos", um dos livros de Hatoum, é um dos melhores que já li na vida. Conta a saga de uma família de origem libanesa em Manaus. Desde então tenho vontade de conhecer "ao vivo" Manaus e seus mistérios. Pena que ainda é tão caro viajar.

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O José Serra que está no Twitter parece outro José Serra. Vale a pena ler suas postagens. No mundo virtual, ele é bem mais humorado e parece até mais humano. Porque em muitos dos eventos políticos que participa Serra é ríspido e sem paciência. É verdade que nos últimos tempos isso parece ter melhorado, talvez por um efeito pré-eleitoral, sei lá.

Às vezes fico pensando se gosto ou não do governador. Gosto do trabalho dele no Ministério da Saúde, principalmente do combate ao fumo e do tratamento aos portadores do vírus da Aids. No governo do Estado, acho interessante políticas voltadas a minorias e a prioridade a áreas como cultura e meio ambiente. A Virada Cultural é idéia dele, por exemplo.

O que detesto em Serra é a mania que tem de não aceitar algumas perguntas de jornalistas. Perguntas normais, cabíveis, que recebe sem educação nenhuma e, pelo que já me contaram, às vezes até com tentativas de censura. Isso não combina com o Serra que está no Twitter.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Cacilda Becker

Cacilda Becker, morta em 1969, após passar mal no palco por causa de um aneurisma cerebral, é sempre apontada como uma das melhores atrizes na história do Brasil. Sempre ouvi falar isso. Mas não sabia que Cacilda teve uma trajetória de miséria ao lado das duas irmãs e da mãe.

Li parte da história esses dias, contada pela atriz Cleyde Yáconis, uma das irmãs de Cacilda, num texto no "Estadão". A mãe delas foi abandonada pelo marido com três filhas para criar. Elas passaram fome e viveram numa favela antes do sucesso salvar a família dos tempos de tristeza.

A tal tristeza, no entanto, nunca abandonou Cacilda, segundo as palavras da irmã. Magra, pelo no osso, a grande atriz se achava inadequada para a época, quando a moda eram mulheres opulentas. Justamente o contrário do que acontece hoje.

De acordo com Cleyde, a estrela dos palcos tinha um sentimento de inadequedação, de não aceitação. Por causa da aparência.

É um mistério. Por que mulheres sofrem tanto com esse tipo de coisa? Até Cacilda Becker, que mobilizava platéias em torno de seu brilho?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Lama

É muita falta de criatividade. O senador José Sarney fez um longo e raivoso discurso no Senado para tentar tirar o próprio nome da lama. Parece meio impossível, mas ele tem o direito de tentar. Todos os sites que vi até agora usaram a mesma frase no título: "A crise é do Senado, não minha, diz Sarney". Um copia o outro? Ou todos os jornalistas pinçaram a mesma frase?

Castigo

Sem dúvida um avanço a decisão de grandes redes de supermercado. Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour suspenderam a compra de carnes de frigoríficos que devastam a Amazônia, grupo Bertin, de Lins, incluído. Tomara que seja sério. Tomara que a moda pegue.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Twitter

Entrei no twitter, para conhecer como funciona e ver se gosto. Um dos primeiros posts que li resume bem o que é esse novo instrumento da internet: uma espécie de hospício virtual, com um monte de gente falando sozinha. É isso mesmo, ou quase. Há troca de informações, algum diálogo, mas na maior parte do tempo as pessoas postam sobre suas vidas, seus pensamentos e não têm retorno.

Para quem precisa - ou gosta - de informação o tempo todo, no entanto, é interessante. Tem até o governador José Serra postando no twitter - e dizem que é ele mesmo e não um fake. Encontrei também a Regina Casé, a Astrid Fontenelle (essa tenho certeza que é a verdadeira, ela comenta sobre o twitter em seu blog), a Rosana Hermann, o Luciano Huck (também o verdadeiro, numa reação a um fake que usava seu nome), entre outros.

Isso sem falar nos twitters de sites de notícia, como o do UOL, da Folha, do Estadão e do Consultor Jurídico. É informação o tempo todo, nada muito diferente do que já existe na rede, mas sabe como é, jornalista precisa ficar de olho em tudo, vai que surge uma novidade...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Na escuridão

Acabo de testemunhar a falha absurda no atendimento especializado a pacientes com problemas psiquiátricos. O jornal BOM DIA fica na região central da cidade, numa redação envidraçada, de portas abertas e bem acessível a qualquer pessoa que passa na rua. Hoje entrou aqui uma senhora japonesa em estado de surto. Ela chorava, tremia, falava coisas sem sentido, citava personalidades da TV e andava de um lado para o outro. Ligamos para o Caps, o centro de atendimento a pacientes psiquiátricos. O Caps não recebe urgências e orientou o encaminhamento para o Pronto-Socorro. Chamamos o Samu, que acaba de levar a mulher.

O Samu chegou rápido, com médico e socorristas delicados. O médico conversou com a senhora antes de conduzi-la à ambulância, de forma bastante atenciosa. Mas o Pronto-Socorro não é o lugar ideal para pacientes em surto. Parece óbvio que não é possível misturar um paciente descontrolado com gente a espera de atendimento básico. Além disso, acredito que o PS não tenha médicos especializados de plantão para receber de forma adequada uma paciente portadora de doença mental.

Enfim, é bem triste ver alguém nesse estado e ainda torcer para que ninguém dê risada. Não tem graça nenhuma.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Peso nos ombros

A imagem que fixei na memória da tragédia do voo 447 não é do imenso oceano, de pedaços do avião ou de fotos das vítimas. Desde ontem à noite, penso em Regina Casé toda que vez que leio, ouço ou vejo algo sobre o acidente.

Regina Casé estreou no Fantástico mais um de seus incríveis quadros que misturam reportagem, ficção e entretenimento. Ela tem enorme talento para traduzir em linguagem televisiva o que o povo fala e pensa. O novo quadro mostra as modas populares, dos tipos de cabelo às comidas que todo mundo vai experimentar.

A atriz e apresentadora estava no estúdio, ao vivo, para ancorar o novo quadro. Foi chamada logo após uma reportagem sobre o encontro dos primeiros corpos. Ouviu uma mãe entre lágrimas dizendo que, diante do sofrimento provocado pelo resgate de corpos boiando dias após o acidente, preferia a filha onde estava, no fundo do mar.

Quando a câmera focou Regina, ela estava menor, com ar sofrido e um enorme peso nos ombros. Deu para notar os braços caídos e as sombrancelhas tristes. Profissional experiente, driblou a armadilha de ter sido escalada para falar de humor logo depois de uma notícia tão pesada. Para mim, ficou a imagem do abatimento.

Parentes de passageiros do voo 447 narram cenas de desespero na hora em que chegou a informação sobre o encontro dos corpos. A morte ficou real, foi materializada, não dá mais para acreditar em sobreviventes esperando ajuda em ilhas remotas.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Para ajudar Thiago

O Thiago é um bauruense de três anos que nasceu com a síndrome do meio coração (Hipoplasia de Ventrículo Esquerdo). Ainda na gravidez, a mãe dele, Márcia Adriana, ouviu de médicos que a doença é incompatível com a vida.

Mas a família encontrou o médico José Pedro da Silva, da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e conseguiu mostrar que Thiago pode viver sim. José Pedro é um dos principais especialistas em cirurgias cardíacas do Brasil e desenvolveu no país a técnica que pode salvar as crianças portadoras de meio coração.

O menininho já fez várias cirurgias, passa por acompanhamento médico frequente, faz terapias, exames, etc.

Os pais conseguiram que a Unimed cobrisse até agora os gastos das cirurgias e demais procedimentos. Márcia Adriana virou uma especialista em encaminhar mães com o mesmo problema para o médico José Pedro da Silva. Em muitos casos se responsabiliza pelos contatos na Beneficicência e até pela parte burocrática das internações, negociação com convênios, decisões judiciais, etc. Dá muito apoio para as mães que ficam sem saber o que fazer ao receber o diagnóstico dos filhos.

Agora quem precisa de ajuda é Márcia Adriana e o pequeno Thiago. A empresa em que ela trabalha cortou o convênio médico e, ao mesmo tempo, o marido está prestes a perder o emprego, por causa da crise econômica. A família passa por dificuldades financeiras. Thiago ainda precisa de muita atenção médica e existe inclusive a possibilidade de um transplante.

Diante da situação, outra Márcia, essa do Rio de Janeiro, resolveu ajudar. Ela é amiga da Márcia de Bauru porque também teve um filho com a síndrome do meio coração, Ian, morto logo após o parto. Foi uma das mães ajudadas pela bauruense.

A Márcia do Rio é fotógrafa e bolou um evento em que fará 15 fotos de crianças, em áreas verdes do Rio e de São Paulo, e venderá para os pais. A renda será revertida para o tratamento de Thiago.

Márcia Adriana procura um fotógrafo de Bauru disposto a fazer uma ação parecida aqui. Seria a doação de um dia de trabalho, tirando fotos de crianças numa praça, do mesmo jeito que será feito no Rio e em São Paulo.

Para entrar em contato com a Márcia Adriana: dri_rebordoes@hotmail.com

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Notícias

Clóvis Rossi, na Folha, disse que nunca temeu as viagens de avião. Mas agora começa a temer. Tenho a mesma sensação. Três tragédias num período tão curto não tem nada de normal. E ainda num período em que a indústria da aviação enfrente crises, com fusões de empresas, fechamento de outras, cortes de serviços, etc.

Hoje saiu a lista oficial dos mortos no acidente do voo 447. O estranho deste acidente é que, por mais óbvio que fosse, as pessoas demoraram a acreditar que não havia chance de encontrar algum sobrevivente. Teve até um oficial da FAB (Força Aérea Brasileira) que, no Jornal Nacional, cogitou a hipótese de alguém ter sobrevivido. Achei irresponsável.

O mais triste foi o ocorrido no hotel que serve de base para os parentes das vítimas no Rio. Um homem entrou na sala onde todos se reúnem e disse que sobreviventes foram resgatados por um navio e levados para Fernando de Noronha. Todos se abraçaram e choraram, com esperança.

É mesmo difícil aceitar a morte em circunstância tão trágica.

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Já tinha lido os artigos dele na Folha sobre o assunto, mas esta semana o poeta Ferreira Gullar é capa da revista Época. Fala sobre as dificuldades enfrentadas com os dois filhos esquizofrênicos - um já morto. Ferreira Gullar colocou em discussão um tema tabu. A internação de doentes mentais. Nos últimos 20 anos, a luta antimanicomial ganhou força e conquistou o fechamento de hospitais que funcionavam como depósitos de doentes. Profissionais da psiquiatria defendem a convivência dos pacientes com suas famílias e o atendimento em hospitais-dia.

O poeta, no entanto, diz com todas as letras que em algumas situações a internação é a única saída. E agora faltam leitos hospitalares. Famílias, principalmente as mais carentes, ficam sem saber o que fazer diante de parentes que surtam e não tem para onde ser encaminhados.

Além disso, pesquisas mostram o aumento da população de rua após o fechamento dos manicômios. Muitos dos sem-teto são doentes mentais, que perderam o contato com os familiares.

Assunto polêmico, mas que não pode ir para debaixo do tapete.

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O destino do garoto Sean mobiliza juristas brasileiros e norte-americanos. Já vi gente falando que a opinião do garoto de 9 anos deve ser levada em conta e outras pessoas dizendo justamente o contrário. Acho que ele tem que ser ouvido sim. E o que mais deveria ser analisado nessa história é em que situação o garoto vai sofrer menos.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Virada

De plantão no jornal, vi apenas trechos da Virada Cultural: o começo do show do Otto, com o Vitória Régia ainda vazio; junto com as crianças, assisti o grupo Sanfonias e o Circo Vox, duas ótimas atrações na manhã de domingo; consegui ficar também em metade do show de Sandra Sá, cantora do encerramento.

Queria ter visto mais, porque gosto muito da idéia: 24 horas de espetáculos, inclusive na madrugada. Só o fato de parte das apresentações ser no prédio da estação ferroviária já é atraente. É bom que as pessoas tenham acesso ao patrimônio histórico que é delas e está abandonado. Interessante que todos vejam que o espaço inútil a maior parte do tempo pode servir para coisas legais - e populares.

Uma das "atrações" foi o prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB), que neste final de semana extrapolou sua característica de aparecer em todos os cantos. Rodrigo abriu a Virada após receber Otto nos camarins. Ficou para a noite de shows no Vitória Régia e até cuspiu fogo, como mostra foto publicada hoje no Jornal da Cidade. Na madrugada, esteve no show de Wanderléa no Tênis Clube e, a pedido da produção, entregou flores para a cantora, cena considerada constrangedora por várias pessoas. Na manhã de domingo, abriu a 2ª Conferência de Igualdade Racial. Em seguida foi para o Vitória Régia de novo, onde ficou até o final da tarde, recebendo os artistas e assistindo os espetáculos. Animado, encerrou a Virada no palco, dizendo que a cidade está em festa.

O fato de ser tão acessível e presente ainda surpreende Bauru. Na administração passada, o ex-prefeito Tuga Angerami optou pela reclusão. Não ia em quase nenhum evento, o que provocou críticas. Em parte, ele mesmo as reconheceu como justas. No meio do governo, Tuga tentou ficar mais popular, mas alguma coisa, talvez pessoal, talvez íntima, o impedia de circular o mínimo necessário para um homem público que precisa manter o contato com a população. Acho triste, mas foi isso que aconteceu.

Daqui a pouco, no entanto, todo mundo vai se acostumar com a onipresença de Rodrigo. E aí está o desafio dele. É bom que seja tão disposto. No primeiro dia de sua gestão, ele levou todo o secretariado para as ruas de lama e sujeira do Ferradura Mirim, prova de que não são só os shows e festas que merecem sua atenção. Certo, tudo isso é elogiável. Mas se problemas vellhos e bem concretos não começarem a ser resolvidos logo, a popularidade do "menino que virou prefeito" corre sério risco.

Acredito que chegarão sim recursos do governo federal, li informações sobre os novos postos de atendimento na saúde que serão construídos na periferia, existe um plano de pavimentação prestes a sair do papel e a educação caminha bem. No entanto, não dá para negar: há um cheiro de impaciência no ar.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Absurdo

Não sei nem o que escrever após ler notícias sobre confrontos entre a polícia e alunos [crianças e adolescentes] em escolas públicas. Acho inacreditável. Que mundo é esse? Agora foi na escola em que o governador José Serra (PSDB) estudou. O que ele disse: "No meu tempo não era assim". Não era mesmo. O que os últimos governos do Estado fizeram com a rede pública de ensino?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Televisão

Eu gosto quando o mesmo tema se encontra em diversos meios, por acaso, e posso escrever sobre ele. Então vamos lá.

A Rosana Hermann, do Querido Leitor , blog que sempre leio, faz uma pesquisa online. Quer saber qual é o peso que a TV na vida de seus leitores. Chama o meio de hipnotizador e, apesar de trabalhar nele há 26anos, parece sempre intrigada com o fato das pessoas virarem celebridades apenas porque aparecem no ar.

É intrigante mesmo. Entrevistei dia desses o jornalista Chico Pinheiro. Quer dizer, entrevistei não, ele sentou, falou, falou e quase não teve espaço para perguntas. Ele é inteligente, interessante e também vive intrigado: é celebridade porque aparece na televisão e ainda estranha os inúmeros convites, os pedidos de fotos, de autógrafos. Se sair do ar, vai continuar ótimo repórter. Mas a bajulação acabará.

Também li hoje um texto em que outra jornalista, Lili Prata, fala sobre a televisão. Ela é dona do Blog da Lili, muito divertido. Escreveu sobre o seriado "Sex and City" e o efeito em seu cotidiano. É bem engraçado. Lili não gostava das quatro amigas solteiras e seus dilemas amorosos de mulheres modernas, depois começou a gostar, depois ficou viciada e agora não sabe mais o que fará, porque assistiu todos os episódios, em DVD, e quer mais.

Também cheguei à beira do vício por causa de um seriado "enlatado" (lembram quando essa palavra era usada para criticar os programas produzidos em outros países, lá pelos anos 80?). Gosto de "Sex and City", mas o que quase me levou à dependência foi "ER", o seriado médico.

Após anos como jornalista política, praticamente implorei para mudar de área. Mudei e descobri que adoro fazer matérias sobre saúde. Tenho pelo tema aquela curiosidade genuína que os jornalistas precisam manter. E por isso "ER" despertou um interesse quase doentio. Todo dia queria assistir, mas aquilo começou a me fazer mal. As situações parecem muito reais, tem muito drama, muita tragédia. Aí precisei ser radical. Parei de assistir. Nunca mais vi um episódio.

Este caso seria minha resposta para a Rosana Hermann. O poder da TV é o de estar dentro de casa, acessível o dia inteiro e reproduzir situações que também acontecem na vida real, para o bem e para o mal.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Zélia e Luiz Carlos

Tenho grande interesse pelas histórias de mães e filhos. Sempre. Desde que eu mesma ainda não tinha minha própria história de mãe e filhos.

Por causa disso, passei anos intrigada com o paradeiro da menina Maria Rita, filha da Elis Regina, a cantora incrível e personagem de uma história trágica. Lembrava de algumas cenas de Maria Rita pequena, de óculos, ao lado da mãe. Via notícias sobre os outros filhos de Elis e nada da menina. Logo a única filha mulher tinha sumido, achava estranho.

Fiquei louca de curiosidade quando começaram a aparecer as informações sobre a estreia tímida de Maria Rita, como cantora, em palcos de São Paulo. Procurei vídeos, queria ouvir a voz dela. E não achava nada. Depois ela estourou e, como milhões de pessoas, fiquei impressionada com a semelhança da voz e o gestual de palco. Parecia uma nova Elis, que tive a infelicidade de nunca ter visto ao vivo.

Essa é uma história. A outra é a da escritora Zélia Gattai, que ando revisitando. Zélia era casada com um intelectual comunista de São Paulo quando conheceu e se apaixonou por Jorge Amado. Ela e o primeiro marido tinham um filho de 3 anos, Luiz Carlos.

Zélia foi viver com Jorge e o filho ficou com o pai. Em seguida, o escritor baiano precisou ir para o exílio e Zélia o acompanhou. Passou cinco anos longe do filho. Teve outras duas crianças com Jorge. Quando voltou, virou uma mãe que visitava o primeiro filho, em São Paulo. Ela morou no Rio e na Bahia. Com Jorge, foi a vida inteira uma mulher que viaja pelo mundo. Quase sempre longe do primogênito.

Descobri detalhes dessa história recentemente, porque encafifei com a relação entre a escritora e esse primeiro filho. Nos livros de Zélia, a vida dela, de Jorge, dos filhos e dos amigos artistas, famosos e talentosos, parece saborosa demais. Eles conheciam gente no mundo todo, sempre eram bem recebidos, recebiam muito bem também. Moravam na Bahia, no Rio Vermelho, ao lado do mar de Iemenjá. Cultivavam hábitos simples e prazerosos. Uma vida deliciosa.

O que me intrigou é que Luiz Carlos aparece muito pouco na obra, feita de memórias. Hoje, por conta própria, acredito que isso se deva à dor que a mãe sentia. Foi uma vida distante da primeira criança que saiu de seu útero. Coisa mais agoniante.

Encontrei um trecho das memórias em que ela fala de Luiz Carlos, quando ele ainda era criança. Zélia, Jorge e os dois filhos tinham acabado de voltar da Europa, moravam num edifício do Rio lotado de crianças e ela sentia falta do primeiro filho.

Ao fuçar na internet, descobri também que a curiosidade não era só minha. Num blog, vários internautas perguntavam sobre o destino de Luiz Carlos e do primeiro marido de Zélia. Por causa das facilidades do mundo virtual, uma ex-namorada de Luiz Carlos postou e contou sobre sua convivência com a família paulista de Zélia. Depois foi a vez de uma neta da escritora, filha de Luiz Carlos, contar a história de sua família.

Mãe e filho ficaram bem próximos quando o primeiro já era adulto. Sempre se visitavam, participavam dos momentos importantes um do outro. Zélia adorava as três netas de São Paulo - e elas adoravam a avó. Mas Luiz Carlos morreu quando a mãe já estava doente e triste por causa da partida de Jorge. Morreu antes de Zélia, o que deve ter sido uma grande tristeza no fim da vida desta mulher tão acolhedora.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Secos e Molhados

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto

Fala
La, la, la, la
La, la, la, la

Fala

Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto

Fala

terça-feira, 5 de maio de 2009

Biro Biro

Não tenho a capacidade de assistir aos 90 minutos de um jogo de futebol, mas gosto muito de ver a torcida. Sempre tento - e nem sempre consigo - ouvir o que os torcedores gritam. Gosto também de ver as manifestações individuais dos fanáticos, principalmente pelo Corinthians e Flamengo.

Hoje vi uma cena muito engraçada, no Globo Esporte. Foi no jogo do Corinthians (e do Santos também, claro). Um torcedor típico, fora de forma, sotaque paulistano, alegrinho, está na porta do banheiro químico e garante para o repórter que tem uma personalidade corintiana lá dentro.

- Entrou na minha frente... Também, bebe todas...

O repórter espera um pouco e sai Biro Biro, que até eu reconheço de longe.

- Não falei, eu não te falei..., diz o torcedor, antes de entrar para "tirar água do joelho".

O Globo Esporte virou um programa referência até para quem não é lá muito fã de futebol, o meu caso. Dizem que tem relação com o novo apresentador e editor, Tiago Leifert, jornalista de raciocínio rápido e bom humor ao vivo. E, claro, tem a ver com a decisão da Globo de fazer um programa mais descontraído e próximo do público jovem.

Tiago consegue isso de forma brilhante. Hoje, após assistir a cena do torcedor na porta do banheiro do Biro Biro, saiu com esta: "Já estou com saudade do Campeonato Paulista, cada cena bizarra...". Comentário gente como a gente, feito sem ensaio, pelo menos é o que parece.

Vi outro vídeo do Tiago, também muito bom. Após uma reportagem, ele é pego no estúdio conversando com o assistente. Não diz "desculpe a nossa falha". É bem mais natural: "Opa, me pegaram no flagra... estava aqui conversando com o assistente de estúdio".

Sempre me intrigou a perseguição obcecada pelo não-erro na TV. Erro de informação é feio mesmo, mas me refiro ao erro de locução, de câmera, errinho bobo e humano. Como se os apresentadores de TV não tivessem direito a errar.

Tiago quebra um paradigma (não gosto da palavra, mas, enfim, ela cabe aqui). Na GloboNews, e de vez em quanto na Globo, tem uma apresentadora, Maria Beltrão, que também faz isso muito bem. É minha preferida. Paro para vê-la quando está no ar. Mas Maria é prisioneira de outro tabu televisivo, é uma mulher grande, alta, nem sempre em forma, dona de voz forte. Tem espaço, mas não o que merecia. Pelo menos é o que acho.

O voo dos operários

Pouquíssimas pessoas no Brasil têm o hábito de consultar a meteorologia para saber se há risco de tempestade, ciclones ou mesmo ventanias que podem ser perigosas. Não faz parte da cultura local. Até há pouco essa precaução parecia desnecessária. Eram raros os casos de tempestades avassaladoras, ciclones, ventanias capazes de arrancar grandes árvores e amedrontar as metrópoles. Esse foi outro tempo.

As ações descontroladas contra a natureza mudam dia a dia o cenário de um país antes privilegiado pela ausência de catástrofes naturais. Este novo Brasil ganhou ontem uma sequência impressionante de imagens.

Falo dos operários que balançaram durante dez minutos numa gôndola pendurada num prédio de São Paulo, cidade que de uma hora para outra foi atingida por uma ventania de 80 km por hora.

Eles limpavam vidros dos prédios quando o vendaval os surpreendeu. Foram salvos por funcionários da empresa que funciona no local, gente capaz de pensar e agir rápido diante da tragédia prestes a acontecer.

Passado o susto, um dos operários, Luciano Correa dos Santos, pernambucano de 36 anos, deu entrevista e revelou ter visto a morte de perto. Sotaque nordestino, logo em seguida informou: vai continuar nos andaimes da vida, limpando vidraças. "É meu ganha pão", lembrou.

Luciano faz parte daquele Brasil que sequer tem acesso à tecnologia que permite avançadas previsões meteorológicas. É do Brasil nordestino, com sotaque, ainda renegado e tão trabalhador. É um Brasil que vive incrustado em São Paulo, é corpo e alma da metrópole e ainda precisa aguentar os olhares preconceituosos.

Ele e o colega limpavam as vidraças justamente de uma empresa de tecnologia, onde trabalhavam jovens de um Brasil mais moderno e bem mais privilegiado. Sorte os dois Brasis terem se encontrado quando uma mulher corajosa jogou a jaqueta para os operários se agarrarem e serem salvos.

Também deste país tecnológico, moderno, faz parte a pessoa que filmou toda a ação: o andaime pulando de um lado para o outro, o desespero, o salvamento... As imagens são de um funcionário de uma agência de publicidade, no prédio ao lado. Impressionante. Tudo é tão filmado e fotografado o tempo todo que pouca gente questionou como pode alguém estar de prontidão, filmadora na mão, bem na hora em que os operários quase voaram pelo ar.

domingo, 3 de maio de 2009

Rodrigo e Lula

Sábado sonhei com o prefeito Rodrigo Agostinho. Na madrugada de hoje, domingo, sonhei com o presidente Lula. Poxa, o mundo político invade minhas noites. O que será isso?

O sonho com Rodrigo foi confuso. Ele estava em Pirajuí, para um almoço com a imprensa de Bauru (??). Eu estava atrasada, com pressa, precisava comparecer e não conseguia sair de casa. Um sufoco, típico dos dias corridos, cheio de tarefas.

Sonhar é engraçado. Várias coisas do dia-a-dia se embolam e formam histórias sem pé nem cabeça. Vivo correndo, de segunda a sexta-feira, para dar conta de tudo: crianças, trabalho, coisas da casa, coisas pessoais... Isso estava no sonho.

E Rodrigo com sua relação próxima a jornalistas. É uma realidade e não é de hoje. O prefeito de Bauru é muito acessível à imprensa - e, pelo menos até agora, ao resto da população. Com jornalistas que trabalham há vários anos na cidade a relação é antiga.

Ele surgiu menino ainda com seus projetos ambientais. Estava sempre nas redações, divulgando suas idéias. Rapidamente virou um especialista no tema. E sempre era consultado. Ainda adolescente, era a principal fonte ambiental da cidade. Depois virou vereador e continuou muito próximo. Ajudava com informações até mesmo quando não iria aparecer na matéria. É o jeito dele, sempre foi. Daí vem a intimidade com a imprensa que continuou durante sua campanha para prefeito e após a eleição.

Não quer dizer que os jornais, TVs e rádios tenham feito campanha para Rodrigo. Além da imparcialidade obrigatória (e quase sempre questionável),não dava para ter feito isso por um simples motivo: até o meio da campanha, todo mundo tinha certeza que a vitória seria do tucano Caio Coube. Rodrigo parecia estar ali para marcar posição e fortalecer o nome para as próximas disputas. O crescimento dele foi surpresa para todo mundo, inclusive para jornalistas que ele continuou atendendo com facilidade ao longo da campanha.

O sonho com Lula foi meio melancólico. O presidente chorava, numa espécie de despedida. Chorava e falava de suas conquistas para a população de baixa renda. Falava do Bolsa Família, lembrava sua trajetória... e chorava.

Acho incrível ter um metalúrgico grevista na presidência, mas bem que Lula podia se abster de falar certas coisas. Defender o uso de passagens aéreas do Congresso para familiares de deputados e senadores? Declarar que já patrocinou viagens de sindicalistas com sua cota de passagens? Ah, não dá. Se ele pode patrocinar viagens de sindicalistas, a bancada capitalista pode levar lobistas de grandes empresas, é isso?

A melhor frase

A melhor do dia:
Ronaldo, o fenômeno, sai do campo logo após a vitória do Corinthians e caminha cercado por jornalistas.
Um repórter pergunta:
- Ronaldo, quem você está procurando, quer achar o Mano para dar um abraço?
E ele:
- Eu quero comemorar, mas vocês não deixam!

sábado, 2 de maio de 2009

A gripe

Clóvis Rossi escreve na Folha sobre a atuação duvidosa da imprensa em relação à gripe suína. Acha que o alarde exagerado tem um famoso objetivo: vender jornal. Não duvido não. Não que jornalistas fiquem nas redações pensando em quantos exemplares serão vendidos no dia seguinte. Mas é verdade que exageram em determinados assuntos que rendem visibilidade. Parece ser o caso.

Por falar isso, já está em casa a menina de Bauru internada por precaução em ala isolada do Hospital Estadual. Fiquei com pena da garotinha de 6 anos. Passou 20 dias em Orlando, nos EUA, voltou com uma inflamação na garganta e foi parar numa ala de aparência assustadora de um hospital. Dá para ficar com trauma da Disney.

Geladeira

Tem um texto tão bonito do Walcyr Carrasco na Vejinha. Fala de sonhos antigos, da perda de ilusões, da infância... Bom, está lá e vale a pena ser lido.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Alecrim

Alecrim, Alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado
Alecrim, Alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado

Foi meu amor
Que me disse assim
Que a flor do campo é o alecrim
Foi meu amor
Que me disse assim
Que a flor do campo é o alecrim

Alecrim, Alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado
Alecrim, Alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Susan Boyle

Por "milagre", as crianças dormiram cedo ontem e consegui assistir "Saia Justa", o programa do GNT ancorado pela jornalista Mônica Waldvogel. Foi bom porque já estava me sentindo solitária numa sensação recente: achei uma farsa tosca o tal vídeo em que Susan Boyle entra num palco desacreditada e sai ovacionada porque tem uma voz linda, apesar da aparência desleixada e feia.

Vi várias pessoas inteligentes dizendo que choraram muito ao ver o vídeo. Eu não. Tudo tão falso, tão armado. E a pós-apresentação deixou isso ainda mais claro. Susan vai virar tema de filme, de livro, de programas de TV, etc., etc.

É fato que é bem feia e também que tem talento para cantar. Provavelmente vivia sozinha mesmo. Mas é muito difícil acreditar que foi descoberta naquela apresentação agora famosa. Tudo ali parecia ensaiado demais.

Pois ontem, no "Saia Justa", Waldvogel disse que assistiu o vídeo várias vezes, não ficou nenhum pouco emocionada e começou a achar que havia algo de errado com ela. Mais ou menos como eu senti. Cheguei a pensar: será que estou cética demais, armada demais contra tanto markenting?

Outra participante, Beth Lago, foi mais dura. Para ela, para acreditar naquele vídeo super-armado é preciso estar com a vida vazia, ou seja, precisando muito de emoções ao ponto de cair num conto do vigário tão evidente.

Ufa, não são meus olhos que ficaram críticos demais.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Planos

Do nada, Paloma, 8, pergunta:

- Mãe, quando você ficou grávida, eu estava nos seus planos?
- Estava sim.
- Êeeee... E o Pedro?
- Ah, o Pedro não estava muito não.
- Há, há, há. O Pedro não estava nos planos, o Pedro não estava nos planos...

Pedro, 2, reage:

- Tava sim! (bem bravo com a irmã)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Águas Claras

Que lindo! Por causa de uma pesquisa que estou fazendo, achei um vídeo do João Gilberto no Festival de Águas Claras. Ele parece feliz, sem neuroses. Até sorri diante do público "hippie", que canta junto. Momento bonito.

Dilma

O câncer que a ministra Dilma Rousseff enfrenta é do mesmo tipo sofrido pelo ex-prefeito Tuga Angerami, no final da década de 70, antes do início de sua carreira política. Tuga passou por cirurgia e fez um ano e meio de quimioterapia. Ficou curado. Quase 30 anos depois, na reta final de seu segundo mandato, precisou enfrentar outro câncer, na próstata, desta vez mais brando. Fez cirurgia e foi considerado curado novamente, desta vez sem quimio.

Escrevo isso porque acho intrigante as reações à doença. Os médicos foram claros ao informar que o tumor da presidendiável foi descoberto no início e que as chances de cura são de 90%. Ela tirou o tumor e agora faz quimioterapia preventiva. Apareceu disposta, forte como sempre e até mais humorada. Disse que não vai parar de trabalhar - trabalhou até mesmo no dia da cirurgia.

Mesmo assim, já existem especulações sobre um afastamento da campanha presidencial, que ela nem assumiu ainda, apesar de ser declaradamente a candidata do presidente Lula. Já tem gente falando em nomes para substituir Dilma, como se ela estivesse fora de combate.

O certo é que a partir de agora a ministra enfrentará, para o resto da vida, as especulações sobre a doença.

Aconteceu com Tuga. Mesmo curado do câncer linfático da juventude, ele conviveu com boatos sobre a volta da doença durante toda sua trajetória política. Adversários usaram o fato para tentar derrotá-lo mais de uma vez. Gente especializada espalhou informações equivocadas. Gente mal informada ajudou a espalhar versões até engraçadas.

Uma vez ouvi que Tuga administrava Bauru com uma equipe médica ao lado, que no Palácio das Cerejeiras fora instalada uma mini-UTI para emergências e até que ele passava boa parte do tempo deitado numa maca.

Sim, ele foi um prefeito distante da população, fechado no gabinete, mas não por causa do estado de saúde e sim pelo estado de ânimo.

Admirei a transparência de Dilma. Foi à TV e contou tudo sobre a doença e o que vai enfrentar nos próximos meses. Muita gente do próprio PT soube junto com a população. É a postura correta para uma mulher de vida pública. Talvez seja uma característica feminina, pois já vi vários homens públicos tentando esconder seus problemas de saúde, talvez por medo da repercussão e da possibilidade de perder votos.

Náusea

Olha só a frase do deputado estadual Campos Machado (PTB) ao falar, em Bauru, sobre a participação das mulheres na política: "Um partido sem mulheres é igual a um jardim em flores, um céu sem estrelas".

Argh!! Deu até enjoo. Sabe cheiro de naftalina? Eu senti ao ler esta frase.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sem esperança

Não tem explicação para os deputados federais que usaram suas cotas de passagens aéreas para patrocinar viagens internacionais, turísticas ou até supostamente para ganhar DINHEIRO com a VENDA para agências de turismo. Não existe justificativa, nem adianta procurar.

O que o deputado José Paulo Tóffano, do PV de Jaú, vai falar sobre o fato de ter usado dinheiro público, da Câmara, para proporcionar à namorada do sobrinho uma viagem à Europa? Que ela precisava respirar os ares europeus? Que a moça foi participar de um congresso que interessa a seu gabinete? Ou que todo mundo sempre fez isso no Congresso e ele, que acabou de chegar lá, resolveu fazer também?

A sensação é que o Congresso não sabe como responder à opinião pública mais este escândalo. Porque não tem o que falar mesmo. Até Fernando Gabeira, do PV do Rio, está envolvido. Logo ele, símbolo de uma nova era da política.

Realmente, não dá para ter esperança na política, de A a Z.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A bronca, a casa e as senhas

Comemorei a bronca do ministro Joaquim Barbosa no presidente do STF, Gilmar Mendes. Foi uma bronca-desagravo. Não importam os motivos da discussão, mas o que Joaquim, um solitário negro na elite jurídica brasileira, disse em alto e bom som: "Eu não sou um de seus capangas do Mato Grosso", bradou. "Vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro".

Não é de lavar a alma?

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Depois da vida pesada - e estranha, repito, muito estranha - de Paulo Coelho, nada melhor que Zélia Gattai. Estou lendo um dos livros biográficos da escritora paulista, filha de anarquistas e baiana de coração. Ela tinha um texto despretensioso e saboroso. O livro é "A Casa do Rio Vermelho", onde Zélia morou com o marido, Jorge Amado, até a morte deste. Dizem que, com sorte, era possível visitar o casal na casa do bairro charmoso de Salvador. Perdi essa oportunidade. Mas ainda quero conhecer a casa, mesmo sem a presença dos dois.

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Tenho um "talento" inacreditável para escolher o caixa errado nos supermercados. É incrível. Aconteceu ontem de novo. Escolhi, escolhi e fui parar logo num caixa em que a senhora japonesa que estava na frente não lembrava suas senhas bancárias. Tentou vários cartões, remexeu na bolsa e nada. Outro dia presenciei a mesma situação, desta vez com um homem de meia idade acompanhado da mãe. Ele teve que devolver produtos e a conta não fechava. E lá fui eu, procurar outra fila que desse para enfrentar tarde da noite.

Duas observações: 1 - Esse mundo de senhas que precisam ser guardadas na memória ou anotadas em papéis secretos não é fácil mesmo; 2 - Os supermercados vivem lotados, lucram muito e não tem a capacidade de contratar funcionários suficientes para atender seus clientes de forma confortável.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Paulo Coelho

Eu não gostava de Nélson Rodrigues, por causa das frases preconceituosas e do perfil reacionário. No entanto, fiquei fascinada após ler a biografia do escritor e dramaturgo, cheia de passagens trágicas e superações.

O mesmo aconteceu com Garrincha. Como não acompanho futebol, conhecia muito pouco do jogador. A biografia dele proporcionou a descoberta de um personagem dramático e genial.

Assim foi também com Carmem Miranda e Assis Chateaubriand, o velho magnata das comunicações. A cantora, imortalizada pelos balagandâs, teve papel importante na música brasileira ao garimpar e revelar compositores, além de conquistar espaço internacional. Apesar dos métodos condenáveis Chatô, criou do nada o Masp e uma rede poderosa de comunicação.

Especialistas em biografias, os jornalistas Ruy Castro e Fernando Morais redescobrem personalidades incríveis do Brasil. A impressão é que sempre ficam apaixonados pelos seus biografados, sentimento que transmitem para os leitores.

Isso não acontece com Paulo Coelho. Pelo menos essa é a minha impressão. Nunca gostei do escritor e fico muito intrigada com o sucesso dele no mundo inteiro. Como pode? Acabei de ler "O Mago", biografia escrita por Fernando Morais, e a sensação é de estranhamento.

Internações em manicômios, drogas, experiências sexuais inusitadas, a parceria com Raul Seixas e objetivos perseguidos com obstinação deveriam fazer dele um personagem fascinante. Mas não é fascínio o que a história da vida dele transmite e sim estranheza.

Num dos episódios mais bizarros, o escritor brasileiro, já rico, contrata um amigo para trabalhar como escravo dele numa viagem à Europa. Escravo, com todas as letras e direito a passar fome. De novo: como pode?

Fernando Morais, detalhista e perfeccionista, narra todas as etapas da vida do "mago" e até o defende quando relata as críticas agressivas sofridas pelo escritor no Brasil. A imprensa, diz ele, não se preocupou em explicar as razões do fenômeno literário e sim simplesmente em atacar a obra.

Nisso acho que tem razão. No entanto, o próprio biógrafo demonstra desconfiança em vários trechos, principalmente quando se refere ao mestre de Paulo, um homem misterioso que nunca ninguém viu e cujo nome verdadeiro não é revelado pelo escritor.

Li um livro de Paulo Coelho, "O Alquimista", seu maior sucesso. Li para não ficar no "não li e não gostei". Então, li e não gostei. Sim, o escritor tem méritos. Conquista milhões de leitores, provavelmente porque sua linguagem é atraente e está de acordo com uma carência mística mundial. O fato dele ser obstinado também deve ter ajudado para o sucesso mundial. E a biografia mostra que administra seus negócios com mão de ferro e talento. Mas que é um ser esquisito, isso é.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Algumas notas

Repórter, editor e blogueiro, Ricardo Noblat é especialista em política. Daqueles que já teve como fonte o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Antecipa manchetes, sabe muita coisa dos bastidores do poder. Mas o melhor Noblat é o do Blog do Avô, em que escreve sobre a neta, Luana, desde o nascimento da menina. É do tipo vovô babão. E mantém o estilo mordaz, tendo como principal "vítima" sua filha, a mãe de Luana, marinheira de primeira-viagem daquelas que ficam meio fanáticas, sabe?

Veja aqui

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Tenho implicância com legenda de foto que descreve a ação mostrada na imagem. Como leitora, sinto que sou chamada de idiota toda vez que vejo uma coisa dessa. Como jornalista, é comum ser obrigada a fazer as tais legendas descritivas. Parece que elas estão na moda. Viraram regra, sabe-se lá porquê. Não gosto.

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Já escrevi aqui que assisto o Big Brother. Vi todas as edições, mas não lembro da maioria dos participantes. Porque detesto as notícias sem informação nenhuma sobre os ex-BBBs. E elas viram praga logo depois do fim de uma edição. Uma coisa é assistir, no sofá de casa, um grupo de pessoas expondo todas as fragilidades humanas - e também as forças - dentro de uma casa fechada. Outra é ler notícias sobre os ensaios nus das garotas e os namoros dos garotos. Gosto do BBB, não do pós-BBB.


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Preciso de um fim de semana prolongado, como o que vou ter a partir de amanhã. Venho de duas semanas seguidas de trabalho, com direito a plantão na Páscoa. E fiquei bem chateada com a morte do deputado João Herrmann Neto, que precisei cobrir. Encontrei Herrmann várias vezes nos últimos anos, fiz várias entrevistas, conheci parte de sua família e seus funcionários. Morreu numa fase em que tentava reagir à decadência política. Mantinha a empolgação, apesar das dificuldades. Além disso, achei terrível a forma como foi encontrado, boiando na piscina, num dia em que a casa estava cheia de filhos e netos. Certas coisas não deveria acontecer.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O frei bispo

Que interessante. Um frei franciscano é o novo bispo de Bauru. Dom Frei Caetano Ferrari vem de Franca, onde tem um trabalho forte com grupos de jovens. Pelo que deu para ver por meio do google, é bastante comunicativo. Hoje já deu várias entrevistas para a imprensa de Bauru.

Não sou católica e faz tempo que não vou numa missa (gosto mais da arquitetura das igrejas do que dos rituais celebrados lá dentro). Mesmo assim reconheço o peso da voz de um bispo. Bauru tem tradição em bispos progressistas em relação às causas sociais, mas nos últimos ficou mais conservadora no aspecto religioso. Talvez isso mude, pelo menos um pouco.

Não dá para falar em frei e não citar a história de Frei Tito, massacrado pela ditadura militar brasileira. Um dos livros mais densos - e trágicos - que já li foi "Batismo de Sangue", que conta a história dele.

Os freis ficaram do lado contrário ao da repressão, assim como outras autoridades católicas da época. Frei Tito foi torturado com requintes de crueldade (aliás, eu penso, toda tortura tem requintes de crueldade). Depois, foi banido do Brasil, como um dos presos políticos trocados pelo embaixador suíço, sequestrado por guerrilheiros ligados a Lamarca.

No exílio, na França, nunca conseguiu se recuperar do pesadelo. E se matou, enforcado, pendurado numa corda.

Muito, muito triste. Tortura nunca mais!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Profissão repórter

"Profissão Repórter", comandado por Calo Barcellos, é um dos poucos programas que gosto na televisão aberta. E gosto justamente pelo critério usado por Caco, um dos melhores jornalistas do Brasil, para contratar novos repórteres: precisa ter brilho no olhar.

"Fazer entrevista é fácil. Agora, fazer uma boa reportagem, com consistência, que emocione, dá muito trabalho. É esse trabalho que queremos mostrar", diz.

O programa revela as dificuldades e as emoções envolvidas nas reportagens. Ainda inexperientes, os repórteres se dão o direito de chorar, de ficar em dúvida, de mostrar o impacto provocado pelos dramas humanos.

Tenho um pacto comigo mesma: o dia em que perder a capacidade de me emocionar ou de ficar indignada com as histórias dos outros, paro com o jornalismo e vou fazer outra coisa.

Dia desses, minha indignação, que engoli, foi com colegas de imprensa. Fui cobrir uma morte, trágica e que exigiu plantão de horas em busca de informações e imagens. Sim, passamos fome, ficamos muito cansados, não foi nada fácil. Mas episódios assim fazem parte da carreira jornalística. Os que estavam lá não escolheram ser bancários ou trabalhar oito horas batidas num escritório.

Alguns de meus colegas, acho que endurecidos pela rotina desgastante, reclamaram alto e até agressivamente perto de familiares da pessoa morta, entre eles uma criança ainda sob o choque da perda. Como se aquelas pessoas tivessem culpa do plantão inesperado. Também falaram sem parar do almoço adiado por algumas horas. Na porta de uma funerária, onde um corpo era preparado para o velório.

Torço muito para que os familiares vítimas da insensibilidade jornalística não tenham ouvido os comentários infelizes e as gargalhadas fora de hora. Ninguém merece isso.

Mães

Tenho muita pena das mulheres presas que filhos pequenos. Elas podem ficar com os bebês até o fim da amamentação e depois são obrigadas a entregá-los a familiares. Imagino a dor. A ligação entre mãe e filho bebê é visceral. Só quem passa por isso para saber.

E, pelo que vejo por aí, a maioria das mulheres encarceradas foi presa por tráfico de drogas. Em geral estão envolvidas no crime como cúmplices de maridos, filhos, namorados, etc. É uma tolice, mas tenho dúvidas se a prisão é a melhor decisão nestes casos.

Uma mulher com um filho pequeno tem tudo para querer mudar de vida. O que falta são oportunidades de encaminhamento profissional, cursos de reabilitação para escapar da rotina criminosa. Eu acredito nisso.

Anteontem, nove presas do complexo penitenciário do Butantã, na zona oeste de São Paulo, fugiram após render carcereiras. Seis estavam com seus bebês no colo. Eu faria o mesmo. Nada pode separar uma mãe de um filho, quando existe amor e vontade de cuidar da criança.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

João Herrmann

A morte do deputado federal João Herrmann Neto (PDT), na madrugada do domingo de Páscoa, assustou todo mundo que conhecia o parlamentar e usineiro.

Porque Herrmann era um homem alto, forte, extremamente disposto. Parecia muito saudável. É difícil entender como um choque térmico na saída de uma sauna provoca um edema pulmonar agudo e a morte. Eu nunca tinha ouvido falar disso, mas foi isso que aconteceu.

Há dois anos eu e a fotógrafa Juliana Lobato passamos uma manhã na usina de Herrmann, no distrito de Guaricanga, em Presidente Alves. A matéria era sobre etanol e o usineiro, naquela época sem mandato, mostrou toda a cadeia de produção de sua propriedade.

Isso significou entrar na usina, subir escadas perigosas, descer, subir de novo, uma maratona cansativa. Pelo menos para nós duas. Teve uma hora em que eu não queria ver mais nada. Não aguentava mais aquelas escadas, algumas de dar medo. Mas ele não deu a menor chance de desistência. Tivemos que subir e descer e ouvir as explicações sem fim sobre a produção de etanol. Herrmann não perdeu o fôlego.

Um dos funcionários mais antigos dele confidenciou: o patrão adorava mostrar essa usina. Adorava política também e, sempre que podia, falava sem parar sobre o assunto. Atualmente, dizia estar desgostoso com o vazio ideológico do Congresso Nacional.

Após ver todas as etapas da produção do etanol, Herrmann fez eu e a Juliana subirmos na caminhonete dele e percorrer a fazenda para ver a plantação de cana. Teve uma hora em que o veículo ficou à beira de um barranco. Deu medo de novo. Em nós duas, não nele. O usineiro manobrou e deu um jeito de sair dali.

Em março deste ano, fui cobrir a inauguração do escritório político do deputado em Bauru. Achei impressionante o número de pessoas presentes e o requinte do evento - não muito comum por aqui. Mas a cena mais marcante foi de Rodrigo, 10 anos, o filho mais novo. O menino acompanhou todo o evento agarrado aos braços do pai, até na hora do discurso. Eram muito apegados, contam os amigos.

Ontem, infelizmente fiquei perto de Rodrigo enquanto ele e a mãe esperavam o corpo de Herrmann ser preparado para o velório e enterro em Campinas. Muito triste.

O deputado gostava muito de falar sobre sua longa amizade com o presidente Lula e outras autoridades do governo federal. Acho que até exagerava. Hoje, pensando bem, imagino que ele vivia um momento realmente difícil para um político que acreditava na ideologia e queria convencer com argumentos e informações. Deve ter falado sozinho muitas e muitas vezes.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Calma, muita calma

Fui fazer uma matéria sobre um grupo que dá apoio a portadores da doença de Parkinson e achei um número assustador: três parkinsonianos são ex-funcionários do IPA (Instituto Penal Agrícola), com certeza um dos locais de trabalho mais tensos de Bauru. Será apenas coincidência? Não acredito.

O pai de uma das voluntárias, também doente de Parkinson, foi um bancário metódico a vida inteira. Deve ter vivido anos sob tensão. Uma vez, ouvi de um caixa de banco que ele torcia para acontecer alguma coisa diferente durante o dia. Era uma forma de escapar, pelo menos um pouco, do tédio das operações bancárias.

Li recentemente um texto em que as pessoas que desenvolvem a capacidade de fugir do estresse são consideradas as mais inteligentes. Vivem melhor e, pelo jeito, também vivem mais.

Sempre achei que os baianos estão certos! Ainda vou morar na Bahia!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Febre amarela

Drauzio Varella já teve febre amarela. Quase morreu. Praticamente sem forças, manteve a consciência e sofreu ao perceber que estava perto do fim porque não tomou a vacina indicada antes de uma expedição ao Rio Negro. Sofria ao imaginar a dor da mulher e das filhas.

Após escapar, ele escreveu um livro bem interessante, "O Médico Doente". Agora, com a onda de febre amarela na região de Piraju, aqui perto de Bauru, voltou ao tema num artigo publicado em seu site.

Vale a pena ler.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tanque?

Gente, quase não acreditei! Olha o exemplo que o vereador Segalla (DEM) deu agora há pouco, na Câmara, para falar sobre as doenças provocadas pela vida sedentária de grande parte da população: "as mulheres já não lavam mais a roupa no tanque".

O quê? Tanque? Em pleno século 21?

É, vereador, as mulheres já não lavam mesmo a roupa no tanque. As mulheres trabalham, cuidam dos filhos, muitas assumem sozinhas as responsabilidades da família e sequer têm tempo de prestar atenção da política. Também, com a política que está por aí...

Ah, este é o mesmo vereador que no Dia Internacional da Mulher disse que a data era desnecessária, porque para ele os dois sexos já são iguais, com os mesmos direitos, etc e tal.

Sim, a máquina de lavar roupa (como até o Vaticano já divulgou) é uma grande revolução na vida das mulheres - que, pelo menos no Brasil, fazem quase tudo sozinha em casa, apesar de estarem no mercado de trabalho, enfrentando os mesmos desafios que os homens que também não usam o tanque como exercício.

Tanque? Não tinha um exemplo menos machista para dar?

*****

Outro vereador, Carlinhos do PS (PP), falou sete "a coisa está medonha" para referir-se aos problemas na saúde municipal. Tem razão, o setor é um dos mais problemáticos de Bauru. Mas que falta de palavras no repertório...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A família de André

A lição desta semana vem de uma família que passa por uma situação muito triste. É a família de André, fisioterapeuta de 28 anos. Ele morreu há menos de um mês, vítima de dois aneurismas. Estava casado há um ano, tinha muitos planos e era do tipo de jovem que passa a vida rodeado por amigos.

Fui ontem à casa da família por causa de uma matéria sobre aneurismas e AVCs em pacientes jovens, o que sempre é chocante. Eles moram numa casa grande, cheia de gente e com cara de lar mesmo - tinha bagunça na sala, o telefone sem fio tocou e ninguém sabia onde estava e tomei um cafezinho com canela preparado pelo pai de André.

Os pais choraram bastante, mas também riram lembrando de como o filho era alegre e animado. É um momento muito íntimo, de questionamentos, de sensação de poder ter feito mais para evitar a morte. É também um momento em que os mais próximos ainda vivem sob uma espécie de anestesia, sem acreditar no que aconteceu. Os amigos continuam rodeando a família, o que evitou até agora a imensa sensação de vazio causada por uma morte precoce.

É complicado participar - e ainda fazer perguntas - de um momento tão doloroso e familiar como este. Mas não é a primeira situação dessas que vivo, na verdade até já sei controlar minhas emoções e falar palavras de consolo - só não sei se servem para alguma coisa.

Já tive até que segurar as lágrimas, com todas as forças, diante de um casal que sabia previamente da morte do filho de dez anos, vítima de um grave câncer no cérebro. A criança estava presente, o que obrigou a todos a exercitar o auto-controle.

Bom, no caso da família de André, além da tristeza, ficou uma lição de vida. Os pais, mesmo abalados, querem passar uma mensagem aos jovens. Acham que a vida deve ser intensa e cheia de amor, como a do filho caçula.

André trabalhava numa clínica, num curso de pós-graduação e ainda tinha disposição para atender os amigos sem cobrar nada. Fazia parte de um grupo dos doutores da alegria, praticava vários esportes e, segundo a mulher, Juliana, fazia festa até para comer arroz com ovo.

Segundo a mãe, nos 13 dias em que passou na UTI, grupos de amigos se revezavam para visitar a família no hospital. Ele era ciclista e num desses dias os companheiros de passeio foram ao local com suas bicicletas, deram as mãos e rezaram pelo amigo.

Tive acesso ao orkut de André e vi algo cada vez mais raro, infelizmente: ele, os irmãos e os pais se adoravam e com frequência mandavam recados só para dizer: eu te amo.

Depois da morte, Aline tatuou o nome dos irmãos nas costas. Renato deixou a cidade que escolheu para viver, perto de Natal, e voltou para Bauru para ficar ao lado do irmão nos seus últimos dias e acompanhar a recuperação dos pais.

Sai da casa, após horas de conversa, com uma rosa nas mãos. Presente de Manuel, o pai de André. Ele é um dos mais tristes com a perda, chora o tempo todo, está com a imagem do filho morto na cabeça, ainda vai sofrer muito. Mesmo assim continua gentil e não esqueceu a flor com que costuma presentear as mulheres.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Lula chique

Quem diria... O presidente Lula "imitou" o Carlão Otaviani, ex-prefeito e atual gerente de Agudos. É o Carlão que costuma chamar suas realizações de chique.

Mas a cena mais engraçada é Obama chamando o presidente brasileiro de "o cara". É impressão minha ou Lula não deu muita bola?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Roleta-russa

Queria que todo motoqueiro "rebelde" visse a cena que eu vi no domingo à tarde, em plena Nações Unidas. Estava de plantão e precisei correr até a avenida por causa de um acidente de moto. Cobrir acidente é sempre horrível, mas este foi um dos mais impressionantes.

Logo ao chegar, o primeiro espanto. A moto estava muito longe das duas vítimas, dois garotos, um de 18 e o outro de 19 anos. Achei estranho e foi a primeira pergunta que fiz aos policiais. Eles explicaram que o veículo ficou longe dos corpos por causa da alta velocidade.

Em seguida, vi o radar, com base de concreto, e um poste de sinalização derrubados. Os dois meninos é que provocaram as quedas. Com o impacto dos corpos. Não sabia que isso era possível. Chocante.

Aí me afastei e olhei para a cena inteira, de longe. Era aterrorizante. Dois corpos cobertos com uma espécie de alumínio, um perto do outro. Ao lado, chinelos e os capacetes. O radar caiu destruído no meio da Nações (não sei como não atingiu outro veículo) e a placa de trânsito ficou no meio do canteiro central. Várias viaturas e policiais cercaram o local e muitos curiosos pararam nas calçadas. A cerca de 60 metros de distância ficou a moto, quase intacta e cheia de adesivos juvenis.

Vi a perícia chegar, fotografar os garotos, a moto, as marcas do acidente. Depois chegou o carro funerário, com aqueles caixões grandes para transportar os corpos. É muito triste ver gente morta em acidente ser retirada da pista. Logo a cena começou a ser desconstruída. Os curiosos foram embora após a retirada dos corpos e a polícia começou a providenciar a liberação da avenida.

Sou mãe e nessas horas só penso no que sentem os pais de meninos que se matam igual a esses dois da Nações Unidas. Em segundos eles deixam de ser jovens com a vida pela frente e se transformam em cadáveres estendidos no chão.

Qual é a razão dessa roleta-russa diária pelas ruas das cidades?

Cadê a saúde?

O que acontece na saúde pública em Bauru é muito absurdo! O problema vem de longe, mas não dá para esperar mais. A solução precisa ser urgente!

Josi, que trabalha aqui na limpeza do jornal, tem um filho pequeno que precisa de atendimento médico. Está com febre e dor de cabeça. Parece sinusite, mas não dá para ter certeza. Só um pediatra pode dizer.

A mãe tentou levar a criança no posto de saúde do Mary Dota, um dos bairros mais populosos de Bauru. Não tinha médico.

"É raro ter médico lá", Josi conta.

Foi no Pronto-Socorro, lotado como sempre. A criança não aguentou esperar. Seriam horas até conseguir um médico. A informação é que apenas um pediatra estava no local.

Mãe e filho foram embora sem conseguir o atendimento. Ela decidiu comprar antibiótico por contra própria. A farmácia vendeu.

Situação insuportável.