quarta-feira, 8 de julho de 2009

É isso

É isso que eu queria ter escrito:

O circo foi genuinamento emocionante
Bia Abramo
Colunista da Folha


"Havia Michaels para todos os discursos na cerimônia de despedida. Era só chamar seu nome e ele estava lá. Gênio e maior showman da Terra, segundo o chefão da Motown, Berry Gordy. Ídolo de músicos como Stevie Wonder e Smokey Robinson. MJ como símbolo do empoderamento negro, homenageado pelos herdeiros políticos de Martin Luther King. O pequeno príncipe, amigo da princesinha Brooke Shields. O melhor pai do mundo, segundo a filha.

Que haveria circo, como disse a musa inspiradora e amiga Elizabeth Taylor, não podia haver muita dúvida. O espetáculo era parte integrante da vida de MJ e não haveria de estar ausente justo no epílogo. A atenção global também era mais do que esperada -ele, afinal, era o mundo, a criança, aquele que fazia o dia mais luminoso.

Como se fosse ‘o’ show para ficar no lugar dos 50 que ele não pôde cumprir, a cerimônia foi cuidadosamente pensada e coreografada. A família devidamente uniformizada com óculos escuros. Os irmãos com as famosas luvas. As crianças dele sem panos a ocultá-las. Tudo isso parecia estar no script.

Mas era bem mais difícil prever que fosse genuinamente emocionante. Que ver os irmãos enlutados, os Jacksons restantes, fosse tocante. Que rever o inacreditável chapéu rosa que ele usava 40 anos atrás no programa de Ed Sullivan fizesse relembrar a vontade de namorar Michael Jackson que eu tinha aos 11 anos, quando ouvia ‘Music and Me’. Que soasse justa a homenagem a MJ como um símbolo da grandeza da música pop negra nos Estados Unidos, cujo papel é fundamental para que a América tenha hoje Obama.

Aquilo que pegou muita gente, eu inclusive, de calças curtas foi a tristeza de verdade causada por sua morte, para além de qualquer cinismo midiático. Na cerimônia de ontem, por algum daqueles fenômenos pop inexplicáveis, o artifício que cercou sua vida pôde ser ao menos parcialmente abandonado. E, desta forma, havia ali também um Michael para cada tristeza. Inclusive a minha. E a sua."



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