sexta-feira, 24 de julho de 2009

O que vão pensar?

Gosto muito de arquitetura histórica. Em São Paulo, sou capaz de andar horas pela região central só admirando os prédios construídos em outras épocas. São bem mais bonitos que os modernos, não tenho dúvida. Em locais como o Pelourinho, de Salvador, e os centros de Paraty e Ouro Preto cada porta, cada telha antiga merece meus olhares demorados.

Tenho também uma estranha atração por ruínas. Até hoje tenho dúvidas se preferia o Pelourinho antigo, sem restauração e ocupado por populares, ao bairro turístico em que se transformou. Claro, ruínas um dia desmoronam e prédios históricos precisam ser restaurados. Mas não nego que gosto de ver um casarão contar sua trajetória por meio das paredes em transformação, sem inteferências do homem.

Foi esse tipo de interesse que me motivou a escrever uma série de matérias sobre estações ferroviárias de São Paulo (série agora premiada pela rede BOM DIA de jornais). Mas não foi a arquitetura das estações (todas belas, em ruínas ou restauradas) o que achei mais incrível e sim a trajetória de pessoas envolvidas com o patrimônio público (e abandonado) ao ponto de assumir a função de guardá-los. Acho que foi isso também que inspirou os jurados do prêmio a escolher a série.

Comecei por Pirajuí, cidade onde nasci e em que, na infância, via a estação ferroviária envolvida num certo mistério, um lugar distante e onde de vez em quando passavam os trens tão esperados pelas crianças.

Lá levei o primeiro "choque" de humanidade. Ouvi de um velho ferroviário aposentado, morador da colônia em frente à estação, que ele tinha vergonha do mato que crescia nos trilhos localizados ao lado. No passado, era o agora aposentado que trabalhava na limpeza. A ferrovia foi entregue ao setor privado e ninguém mais se preocupou com isso. O mato cresceu à vontade ao longo dos antes impecáveis trilhos.

Pois o velho aposentado não se conformou e, por conta própria, decidiu retomar o serviço do passado, mesmo sem ganhar nada. A explicação: "E se alguém passa e vê a sujeira, bem em frente a minha casa? O que vão pensar de mim?"

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