quinta-feira, 2 de julho de 2009

Durval

Após ler as críticas a "Durval Discos", o primeiro longa de Anna Muylaert, o que ficou registrado na minha memória foi a história de um vendedor de vinil que se recusa a aderir à era do CD, hoje em plena decadência. Achei que só era isso: um filme poético e até saudosista sobre as transformações rápidas - e até assustadoras -da indústrial cultural.

Só agora assisti a cópia em DVD e levei um susto. A loja fictícia, com cara de antiga, em plena Teodoro Sampaio, Pinheiros, São Paulo, foi inspirada no mundo real. Edgar é um vendedor de vinil que resistiu - ou resiste, não sei - às mudança que batem em sua porta, todos os dias. Inspirou Durval, com cara de hippie, roupas surradas e roqueiras, popular na região em que mora. Tem uma mãe também daquelas de antigamente, que cozinham todos os dias para o filho, já crescido, mas ainda tratado como um molequão.

Só que o filme tem uma virada que eu não esperava. O que, preciso reconhecer, faz toda a diferença. Como uma hora e meia de projeção iria se sustentar apenas com a história da loja à beira da falência? O que o longa mostra, além da solidão de quem resiste às mudanças drásticas, é a solidão de quem precisa encontrar motivações para a fase final da trajetória, no caso a mãe do amante dos vinis. Ela encontra uma criança, deixada na casa em que vive por motivos depois esclarecidos, e que vira a razão de sua vida.

Há humor, tensão e bizarrice em "Durval". Há loucura também. É ficção, mas dá para reconhecer pitadas do mundo real. Solidões que a gente vê por aí.

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