Eu não gostava de Nélson Rodrigues, por causa das frases preconceituosas e do perfil reacionário. No entanto, fiquei fascinada após ler a biografia do escritor e dramaturgo, cheia de passagens trágicas e superações.
O mesmo aconteceu com Garrincha. Como não acompanho futebol, conhecia muito pouco do jogador. A biografia dele proporcionou a descoberta de um personagem dramático e genial.
Assim foi também com Carmem Miranda e Assis Chateaubriand, o velho magnata das comunicações. A cantora, imortalizada pelos balagandâs, teve papel importante na música brasileira ao garimpar e revelar compositores, além de conquistar espaço internacional. Apesar dos métodos condenáveis Chatô, criou do nada o Masp e uma rede poderosa de comunicação.
Especialistas em biografias, os jornalistas Ruy Castro e Fernando Morais redescobrem personalidades incríveis do Brasil. A impressão é que sempre ficam apaixonados pelos seus biografados, sentimento que transmitem para os leitores.
Isso não acontece com Paulo Coelho. Pelo menos essa é a minha impressão. Nunca gostei do escritor e fico muito intrigada com o sucesso dele no mundo inteiro. Como pode? Acabei de ler "O Mago", biografia escrita por Fernando Morais, e a sensação é de estranhamento.
Internações em manicômios, drogas, experiências sexuais inusitadas, a parceria com Raul Seixas e objetivos perseguidos com obstinação deveriam fazer dele um personagem fascinante. Mas não é fascínio o que a história da vida dele transmite e sim estranheza.
Num dos episódios mais bizarros, o escritor brasileiro, já rico, contrata um amigo para trabalhar como escravo dele numa viagem à Europa. Escravo, com todas as letras e direito a passar fome. De novo: como pode?
Fernando Morais, detalhista e perfeccionista, narra todas as etapas da vida do "mago" e até o defende quando relata as críticas agressivas sofridas pelo escritor no Brasil. A imprensa, diz ele, não se preocupou em explicar as razões do fenômeno literário e sim simplesmente em atacar a obra.
Nisso acho que tem razão. No entanto, o próprio biógrafo demonstra desconfiança em vários trechos, principalmente quando se refere ao mestre de Paulo, um homem misterioso que nunca ninguém viu e cujo nome verdadeiro não é revelado pelo escritor.
Li um livro de Paulo Coelho, "O Alquimista", seu maior sucesso. Li para não ficar no "não li e não gostei". Então, li e não gostei. Sim, o escritor tem méritos. Conquista milhões de leitores, provavelmente porque sua linguagem é atraente e está de acordo com uma carência mística mundial. O fato dele ser obstinado também deve ter ajudado para o sucesso mundial. E a biografia mostra que administra seus negócios com mão de ferro e talento. Mas que é um ser esquisito, isso é.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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