sexta-feira, 3 de abril de 2009

A família de André

A lição desta semana vem de uma família que passa por uma situação muito triste. É a família de André, fisioterapeuta de 28 anos. Ele morreu há menos de um mês, vítima de dois aneurismas. Estava casado há um ano, tinha muitos planos e era do tipo de jovem que passa a vida rodeado por amigos.

Fui ontem à casa da família por causa de uma matéria sobre aneurismas e AVCs em pacientes jovens, o que sempre é chocante. Eles moram numa casa grande, cheia de gente e com cara de lar mesmo - tinha bagunça na sala, o telefone sem fio tocou e ninguém sabia onde estava e tomei um cafezinho com canela preparado pelo pai de André.

Os pais choraram bastante, mas também riram lembrando de como o filho era alegre e animado. É um momento muito íntimo, de questionamentos, de sensação de poder ter feito mais para evitar a morte. É também um momento em que os mais próximos ainda vivem sob uma espécie de anestesia, sem acreditar no que aconteceu. Os amigos continuam rodeando a família, o que evitou até agora a imensa sensação de vazio causada por uma morte precoce.

É complicado participar - e ainda fazer perguntas - de um momento tão doloroso e familiar como este. Mas não é a primeira situação dessas que vivo, na verdade até já sei controlar minhas emoções e falar palavras de consolo - só não sei se servem para alguma coisa.

Já tive até que segurar as lágrimas, com todas as forças, diante de um casal que sabia previamente da morte do filho de dez anos, vítima de um grave câncer no cérebro. A criança estava presente, o que obrigou a todos a exercitar o auto-controle.

Bom, no caso da família de André, além da tristeza, ficou uma lição de vida. Os pais, mesmo abalados, querem passar uma mensagem aos jovens. Acham que a vida deve ser intensa e cheia de amor, como a do filho caçula.

André trabalhava numa clínica, num curso de pós-graduação e ainda tinha disposição para atender os amigos sem cobrar nada. Fazia parte de um grupo dos doutores da alegria, praticava vários esportes e, segundo a mulher, Juliana, fazia festa até para comer arroz com ovo.

Segundo a mãe, nos 13 dias em que passou na UTI, grupos de amigos se revezavam para visitar a família no hospital. Ele era ciclista e num desses dias os companheiros de passeio foram ao local com suas bicicletas, deram as mãos e rezaram pelo amigo.

Tive acesso ao orkut de André e vi algo cada vez mais raro, infelizmente: ele, os irmãos e os pais se adoravam e com frequência mandavam recados só para dizer: eu te amo.

Depois da morte, Aline tatuou o nome dos irmãos nas costas. Renato deixou a cidade que escolheu para viver, perto de Natal, e voltou para Bauru para ficar ao lado do irmão nos seus últimos dias e acompanhar a recuperação dos pais.

Sai da casa, após horas de conversa, com uma rosa nas mãos. Presente de Manuel, o pai de André. Ele é um dos mais tristes com a perda, chora o tempo todo, está com a imagem do filho morto na cabeça, ainda vai sofrer muito. Mesmo assim continua gentil e não esqueceu a flor com que costuma presentear as mulheres.

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