terça-feira, 5 de maio de 2009

O voo dos operários

Pouquíssimas pessoas no Brasil têm o hábito de consultar a meteorologia para saber se há risco de tempestade, ciclones ou mesmo ventanias que podem ser perigosas. Não faz parte da cultura local. Até há pouco essa precaução parecia desnecessária. Eram raros os casos de tempestades avassaladoras, ciclones, ventanias capazes de arrancar grandes árvores e amedrontar as metrópoles. Esse foi outro tempo.

As ações descontroladas contra a natureza mudam dia a dia o cenário de um país antes privilegiado pela ausência de catástrofes naturais. Este novo Brasil ganhou ontem uma sequência impressionante de imagens.

Falo dos operários que balançaram durante dez minutos numa gôndola pendurada num prédio de São Paulo, cidade que de uma hora para outra foi atingida por uma ventania de 80 km por hora.

Eles limpavam vidros dos prédios quando o vendaval os surpreendeu. Foram salvos por funcionários da empresa que funciona no local, gente capaz de pensar e agir rápido diante da tragédia prestes a acontecer.

Passado o susto, um dos operários, Luciano Correa dos Santos, pernambucano de 36 anos, deu entrevista e revelou ter visto a morte de perto. Sotaque nordestino, logo em seguida informou: vai continuar nos andaimes da vida, limpando vidraças. "É meu ganha pão", lembrou.

Luciano faz parte daquele Brasil que sequer tem acesso à tecnologia que permite avançadas previsões meteorológicas. É do Brasil nordestino, com sotaque, ainda renegado e tão trabalhador. É um Brasil que vive incrustado em São Paulo, é corpo e alma da metrópole e ainda precisa aguentar os olhares preconceituosos.

Ele e o colega limpavam as vidraças justamente de uma empresa de tecnologia, onde trabalhavam jovens de um Brasil mais moderno e bem mais privilegiado. Sorte os dois Brasis terem se encontrado quando uma mulher corajosa jogou a jaqueta para os operários se agarrarem e serem salvos.

Também deste país tecnológico, moderno, faz parte a pessoa que filmou toda a ação: o andaime pulando de um lado para o outro, o desespero, o salvamento... As imagens são de um funcionário de uma agência de publicidade, no prédio ao lado. Impressionante. Tudo é tão filmado e fotografado o tempo todo que pouca gente questionou como pode alguém estar de prontidão, filmadora na mão, bem na hora em que os operários quase voaram pelo ar.

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