Tenho grande interesse pelas histórias de mães e filhos. Sempre. Desde que eu mesma ainda não tinha minha própria história de mãe e filhos.
Por causa disso, passei anos intrigada com o paradeiro da menina Maria Rita, filha da Elis Regina, a cantora incrível e personagem de uma história trágica. Lembrava de algumas cenas de Maria Rita pequena, de óculos, ao lado da mãe. Via notícias sobre os outros filhos de Elis e nada da menina. Logo a única filha mulher tinha sumido, achava estranho.
Fiquei louca de curiosidade quando começaram a aparecer as informações sobre a estreia tímida de Maria Rita, como cantora, em palcos de São Paulo. Procurei vídeos, queria ouvir a voz dela. E não achava nada. Depois ela estourou e, como milhões de pessoas, fiquei impressionada com a semelhança da voz e o gestual de palco. Parecia uma nova Elis, que tive a infelicidade de nunca ter visto ao vivo.
Essa é uma história. A outra é a da escritora Zélia Gattai, que ando revisitando. Zélia era casada com um intelectual comunista de São Paulo quando conheceu e se apaixonou por Jorge Amado. Ela e o primeiro marido tinham um filho de 3 anos, Luiz Carlos.
Zélia foi viver com Jorge e o filho ficou com o pai. Em seguida, o escritor baiano precisou ir para o exílio e Zélia o acompanhou. Passou cinco anos longe do filho. Teve outras duas crianças com Jorge. Quando voltou, virou uma mãe que visitava o primeiro filho, em São Paulo. Ela morou no Rio e na Bahia. Com Jorge, foi a vida inteira uma mulher que viaja pelo mundo. Quase sempre longe do primogênito.
Descobri detalhes dessa história recentemente, porque encafifei com a relação entre a escritora e esse primeiro filho. Nos livros de Zélia, a vida dela, de Jorge, dos filhos e dos amigos artistas, famosos e talentosos, parece saborosa demais. Eles conheciam gente no mundo todo, sempre eram bem recebidos, recebiam muito bem também. Moravam na Bahia, no Rio Vermelho, ao lado do mar de Iemenjá. Cultivavam hábitos simples e prazerosos. Uma vida deliciosa.
O que me intrigou é que Luiz Carlos aparece muito pouco na obra, feita de memórias. Hoje, por conta própria, acredito que isso se deva à dor que a mãe sentia. Foi uma vida distante da primeira criança que saiu de seu útero. Coisa mais agoniante.
Encontrei um trecho das memórias em que ela fala de Luiz Carlos, quando ele ainda era criança. Zélia, Jorge e os dois filhos tinham acabado de voltar da Europa, moravam num edifício do Rio lotado de crianças e ela sentia falta do primeiro filho.
Ao fuçar na internet, descobri também que a curiosidade não era só minha. Num blog, vários internautas perguntavam sobre o destino de Luiz Carlos e do primeiro marido de Zélia. Por causa das facilidades do mundo virtual, uma ex-namorada de Luiz Carlos postou e contou sobre sua convivência com a família paulista de Zélia. Depois foi a vez de uma neta da escritora, filha de Luiz Carlos, contar a história de sua família.
Mãe e filho ficaram bem próximos quando o primeiro já era adulto. Sempre se visitavam, participavam dos momentos importantes um do outro. Zélia adorava as três netas de São Paulo - e elas adoravam a avó. Mas Luiz Carlos morreu quando a mãe já estava doente e triste por causa da partida de Jorge. Morreu antes de Zélia, o que deve ter sido uma grande tristeza no fim da vida desta mulher tão acolhedora.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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