quinta-feira, 30 de abril de 2009

Susan Boyle

Por "milagre", as crianças dormiram cedo ontem e consegui assistir "Saia Justa", o programa do GNT ancorado pela jornalista Mônica Waldvogel. Foi bom porque já estava me sentindo solitária numa sensação recente: achei uma farsa tosca o tal vídeo em que Susan Boyle entra num palco desacreditada e sai ovacionada porque tem uma voz linda, apesar da aparência desleixada e feia.

Vi várias pessoas inteligentes dizendo que choraram muito ao ver o vídeo. Eu não. Tudo tão falso, tão armado. E a pós-apresentação deixou isso ainda mais claro. Susan vai virar tema de filme, de livro, de programas de TV, etc., etc.

É fato que é bem feia e também que tem talento para cantar. Provavelmente vivia sozinha mesmo. Mas é muito difícil acreditar que foi descoberta naquela apresentação agora famosa. Tudo ali parecia ensaiado demais.

Pois ontem, no "Saia Justa", Waldvogel disse que assistiu o vídeo várias vezes, não ficou nenhum pouco emocionada e começou a achar que havia algo de errado com ela. Mais ou menos como eu senti. Cheguei a pensar: será que estou cética demais, armada demais contra tanto markenting?

Outra participante, Beth Lago, foi mais dura. Para ela, para acreditar naquele vídeo super-armado é preciso estar com a vida vazia, ou seja, precisando muito de emoções ao ponto de cair num conto do vigário tão evidente.

Ufa, não são meus olhos que ficaram críticos demais.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Planos

Do nada, Paloma, 8, pergunta:

- Mãe, quando você ficou grávida, eu estava nos seus planos?
- Estava sim.
- Êeeee... E o Pedro?
- Ah, o Pedro não estava muito não.
- Há, há, há. O Pedro não estava nos planos, o Pedro não estava nos planos...

Pedro, 2, reage:

- Tava sim! (bem bravo com a irmã)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Águas Claras

Que lindo! Por causa de uma pesquisa que estou fazendo, achei um vídeo do João Gilberto no Festival de Águas Claras. Ele parece feliz, sem neuroses. Até sorri diante do público "hippie", que canta junto. Momento bonito.

Dilma

O câncer que a ministra Dilma Rousseff enfrenta é do mesmo tipo sofrido pelo ex-prefeito Tuga Angerami, no final da década de 70, antes do início de sua carreira política. Tuga passou por cirurgia e fez um ano e meio de quimioterapia. Ficou curado. Quase 30 anos depois, na reta final de seu segundo mandato, precisou enfrentar outro câncer, na próstata, desta vez mais brando. Fez cirurgia e foi considerado curado novamente, desta vez sem quimio.

Escrevo isso porque acho intrigante as reações à doença. Os médicos foram claros ao informar que o tumor da presidendiável foi descoberto no início e que as chances de cura são de 90%. Ela tirou o tumor e agora faz quimioterapia preventiva. Apareceu disposta, forte como sempre e até mais humorada. Disse que não vai parar de trabalhar - trabalhou até mesmo no dia da cirurgia.

Mesmo assim, já existem especulações sobre um afastamento da campanha presidencial, que ela nem assumiu ainda, apesar de ser declaradamente a candidata do presidente Lula. Já tem gente falando em nomes para substituir Dilma, como se ela estivesse fora de combate.

O certo é que a partir de agora a ministra enfrentará, para o resto da vida, as especulações sobre a doença.

Aconteceu com Tuga. Mesmo curado do câncer linfático da juventude, ele conviveu com boatos sobre a volta da doença durante toda sua trajetória política. Adversários usaram o fato para tentar derrotá-lo mais de uma vez. Gente especializada espalhou informações equivocadas. Gente mal informada ajudou a espalhar versões até engraçadas.

Uma vez ouvi que Tuga administrava Bauru com uma equipe médica ao lado, que no Palácio das Cerejeiras fora instalada uma mini-UTI para emergências e até que ele passava boa parte do tempo deitado numa maca.

Sim, ele foi um prefeito distante da população, fechado no gabinete, mas não por causa do estado de saúde e sim pelo estado de ânimo.

Admirei a transparência de Dilma. Foi à TV e contou tudo sobre a doença e o que vai enfrentar nos próximos meses. Muita gente do próprio PT soube junto com a população. É a postura correta para uma mulher de vida pública. Talvez seja uma característica feminina, pois já vi vários homens públicos tentando esconder seus problemas de saúde, talvez por medo da repercussão e da possibilidade de perder votos.

Náusea

Olha só a frase do deputado estadual Campos Machado (PTB) ao falar, em Bauru, sobre a participação das mulheres na política: "Um partido sem mulheres é igual a um jardim em flores, um céu sem estrelas".

Argh!! Deu até enjoo. Sabe cheiro de naftalina? Eu senti ao ler esta frase.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sem esperança

Não tem explicação para os deputados federais que usaram suas cotas de passagens aéreas para patrocinar viagens internacionais, turísticas ou até supostamente para ganhar DINHEIRO com a VENDA para agências de turismo. Não existe justificativa, nem adianta procurar.

O que o deputado José Paulo Tóffano, do PV de Jaú, vai falar sobre o fato de ter usado dinheiro público, da Câmara, para proporcionar à namorada do sobrinho uma viagem à Europa? Que ela precisava respirar os ares europeus? Que a moça foi participar de um congresso que interessa a seu gabinete? Ou que todo mundo sempre fez isso no Congresso e ele, que acabou de chegar lá, resolveu fazer também?

A sensação é que o Congresso não sabe como responder à opinião pública mais este escândalo. Porque não tem o que falar mesmo. Até Fernando Gabeira, do PV do Rio, está envolvido. Logo ele, símbolo de uma nova era da política.

Realmente, não dá para ter esperança na política, de A a Z.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A bronca, a casa e as senhas

Comemorei a bronca do ministro Joaquim Barbosa no presidente do STF, Gilmar Mendes. Foi uma bronca-desagravo. Não importam os motivos da discussão, mas o que Joaquim, um solitário negro na elite jurídica brasileira, disse em alto e bom som: "Eu não sou um de seus capangas do Mato Grosso", bradou. "Vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro".

Não é de lavar a alma?

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Depois da vida pesada - e estranha, repito, muito estranha - de Paulo Coelho, nada melhor que Zélia Gattai. Estou lendo um dos livros biográficos da escritora paulista, filha de anarquistas e baiana de coração. Ela tinha um texto despretensioso e saboroso. O livro é "A Casa do Rio Vermelho", onde Zélia morou com o marido, Jorge Amado, até a morte deste. Dizem que, com sorte, era possível visitar o casal na casa do bairro charmoso de Salvador. Perdi essa oportunidade. Mas ainda quero conhecer a casa, mesmo sem a presença dos dois.

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Tenho um "talento" inacreditável para escolher o caixa errado nos supermercados. É incrível. Aconteceu ontem de novo. Escolhi, escolhi e fui parar logo num caixa em que a senhora japonesa que estava na frente não lembrava suas senhas bancárias. Tentou vários cartões, remexeu na bolsa e nada. Outro dia presenciei a mesma situação, desta vez com um homem de meia idade acompanhado da mãe. Ele teve que devolver produtos e a conta não fechava. E lá fui eu, procurar outra fila que desse para enfrentar tarde da noite.

Duas observações: 1 - Esse mundo de senhas que precisam ser guardadas na memória ou anotadas em papéis secretos não é fácil mesmo; 2 - Os supermercados vivem lotados, lucram muito e não tem a capacidade de contratar funcionários suficientes para atender seus clientes de forma confortável.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Paulo Coelho

Eu não gostava de Nélson Rodrigues, por causa das frases preconceituosas e do perfil reacionário. No entanto, fiquei fascinada após ler a biografia do escritor e dramaturgo, cheia de passagens trágicas e superações.

O mesmo aconteceu com Garrincha. Como não acompanho futebol, conhecia muito pouco do jogador. A biografia dele proporcionou a descoberta de um personagem dramático e genial.

Assim foi também com Carmem Miranda e Assis Chateaubriand, o velho magnata das comunicações. A cantora, imortalizada pelos balagandâs, teve papel importante na música brasileira ao garimpar e revelar compositores, além de conquistar espaço internacional. Apesar dos métodos condenáveis Chatô, criou do nada o Masp e uma rede poderosa de comunicação.

Especialistas em biografias, os jornalistas Ruy Castro e Fernando Morais redescobrem personalidades incríveis do Brasil. A impressão é que sempre ficam apaixonados pelos seus biografados, sentimento que transmitem para os leitores.

Isso não acontece com Paulo Coelho. Pelo menos essa é a minha impressão. Nunca gostei do escritor e fico muito intrigada com o sucesso dele no mundo inteiro. Como pode? Acabei de ler "O Mago", biografia escrita por Fernando Morais, e a sensação é de estranhamento.

Internações em manicômios, drogas, experiências sexuais inusitadas, a parceria com Raul Seixas e objetivos perseguidos com obstinação deveriam fazer dele um personagem fascinante. Mas não é fascínio o que a história da vida dele transmite e sim estranheza.

Num dos episódios mais bizarros, o escritor brasileiro, já rico, contrata um amigo para trabalhar como escravo dele numa viagem à Europa. Escravo, com todas as letras e direito a passar fome. De novo: como pode?

Fernando Morais, detalhista e perfeccionista, narra todas as etapas da vida do "mago" e até o defende quando relata as críticas agressivas sofridas pelo escritor no Brasil. A imprensa, diz ele, não se preocupou em explicar as razões do fenômeno literário e sim simplesmente em atacar a obra.

Nisso acho que tem razão. No entanto, o próprio biógrafo demonstra desconfiança em vários trechos, principalmente quando se refere ao mestre de Paulo, um homem misterioso que nunca ninguém viu e cujo nome verdadeiro não é revelado pelo escritor.

Li um livro de Paulo Coelho, "O Alquimista", seu maior sucesso. Li para não ficar no "não li e não gostei". Então, li e não gostei. Sim, o escritor tem méritos. Conquista milhões de leitores, provavelmente porque sua linguagem é atraente e está de acordo com uma carência mística mundial. O fato dele ser obstinado também deve ter ajudado para o sucesso mundial. E a biografia mostra que administra seus negócios com mão de ferro e talento. Mas que é um ser esquisito, isso é.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Algumas notas

Repórter, editor e blogueiro, Ricardo Noblat é especialista em política. Daqueles que já teve como fonte o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Antecipa manchetes, sabe muita coisa dos bastidores do poder. Mas o melhor Noblat é o do Blog do Avô, em que escreve sobre a neta, Luana, desde o nascimento da menina. É do tipo vovô babão. E mantém o estilo mordaz, tendo como principal "vítima" sua filha, a mãe de Luana, marinheira de primeira-viagem daquelas que ficam meio fanáticas, sabe?

Veja aqui

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Tenho implicância com legenda de foto que descreve a ação mostrada na imagem. Como leitora, sinto que sou chamada de idiota toda vez que vejo uma coisa dessa. Como jornalista, é comum ser obrigada a fazer as tais legendas descritivas. Parece que elas estão na moda. Viraram regra, sabe-se lá porquê. Não gosto.

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Já escrevi aqui que assisto o Big Brother. Vi todas as edições, mas não lembro da maioria dos participantes. Porque detesto as notícias sem informação nenhuma sobre os ex-BBBs. E elas viram praga logo depois do fim de uma edição. Uma coisa é assistir, no sofá de casa, um grupo de pessoas expondo todas as fragilidades humanas - e também as forças - dentro de uma casa fechada. Outra é ler notícias sobre os ensaios nus das garotas e os namoros dos garotos. Gosto do BBB, não do pós-BBB.


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Preciso de um fim de semana prolongado, como o que vou ter a partir de amanhã. Venho de duas semanas seguidas de trabalho, com direito a plantão na Páscoa. E fiquei bem chateada com a morte do deputado João Herrmann Neto, que precisei cobrir. Encontrei Herrmann várias vezes nos últimos anos, fiz várias entrevistas, conheci parte de sua família e seus funcionários. Morreu numa fase em que tentava reagir à decadência política. Mantinha a empolgação, apesar das dificuldades. Além disso, achei terrível a forma como foi encontrado, boiando na piscina, num dia em que a casa estava cheia de filhos e netos. Certas coisas não deveria acontecer.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O frei bispo

Que interessante. Um frei franciscano é o novo bispo de Bauru. Dom Frei Caetano Ferrari vem de Franca, onde tem um trabalho forte com grupos de jovens. Pelo que deu para ver por meio do google, é bastante comunicativo. Hoje já deu várias entrevistas para a imprensa de Bauru.

Não sou católica e faz tempo que não vou numa missa (gosto mais da arquitetura das igrejas do que dos rituais celebrados lá dentro). Mesmo assim reconheço o peso da voz de um bispo. Bauru tem tradição em bispos progressistas em relação às causas sociais, mas nos últimos ficou mais conservadora no aspecto religioso. Talvez isso mude, pelo menos um pouco.

Não dá para falar em frei e não citar a história de Frei Tito, massacrado pela ditadura militar brasileira. Um dos livros mais densos - e trágicos - que já li foi "Batismo de Sangue", que conta a história dele.

Os freis ficaram do lado contrário ao da repressão, assim como outras autoridades católicas da época. Frei Tito foi torturado com requintes de crueldade (aliás, eu penso, toda tortura tem requintes de crueldade). Depois, foi banido do Brasil, como um dos presos políticos trocados pelo embaixador suíço, sequestrado por guerrilheiros ligados a Lamarca.

No exílio, na França, nunca conseguiu se recuperar do pesadelo. E se matou, enforcado, pendurado numa corda.

Muito, muito triste. Tortura nunca mais!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Profissão repórter

"Profissão Repórter", comandado por Calo Barcellos, é um dos poucos programas que gosto na televisão aberta. E gosto justamente pelo critério usado por Caco, um dos melhores jornalistas do Brasil, para contratar novos repórteres: precisa ter brilho no olhar.

"Fazer entrevista é fácil. Agora, fazer uma boa reportagem, com consistência, que emocione, dá muito trabalho. É esse trabalho que queremos mostrar", diz.

O programa revela as dificuldades e as emoções envolvidas nas reportagens. Ainda inexperientes, os repórteres se dão o direito de chorar, de ficar em dúvida, de mostrar o impacto provocado pelos dramas humanos.

Tenho um pacto comigo mesma: o dia em que perder a capacidade de me emocionar ou de ficar indignada com as histórias dos outros, paro com o jornalismo e vou fazer outra coisa.

Dia desses, minha indignação, que engoli, foi com colegas de imprensa. Fui cobrir uma morte, trágica e que exigiu plantão de horas em busca de informações e imagens. Sim, passamos fome, ficamos muito cansados, não foi nada fácil. Mas episódios assim fazem parte da carreira jornalística. Os que estavam lá não escolheram ser bancários ou trabalhar oito horas batidas num escritório.

Alguns de meus colegas, acho que endurecidos pela rotina desgastante, reclamaram alto e até agressivamente perto de familiares da pessoa morta, entre eles uma criança ainda sob o choque da perda. Como se aquelas pessoas tivessem culpa do plantão inesperado. Também falaram sem parar do almoço adiado por algumas horas. Na porta de uma funerária, onde um corpo era preparado para o velório.

Torço muito para que os familiares vítimas da insensibilidade jornalística não tenham ouvido os comentários infelizes e as gargalhadas fora de hora. Ninguém merece isso.

Mães

Tenho muita pena das mulheres presas que filhos pequenos. Elas podem ficar com os bebês até o fim da amamentação e depois são obrigadas a entregá-los a familiares. Imagino a dor. A ligação entre mãe e filho bebê é visceral. Só quem passa por isso para saber.

E, pelo que vejo por aí, a maioria das mulheres encarceradas foi presa por tráfico de drogas. Em geral estão envolvidas no crime como cúmplices de maridos, filhos, namorados, etc. É uma tolice, mas tenho dúvidas se a prisão é a melhor decisão nestes casos.

Uma mulher com um filho pequeno tem tudo para querer mudar de vida. O que falta são oportunidades de encaminhamento profissional, cursos de reabilitação para escapar da rotina criminosa. Eu acredito nisso.

Anteontem, nove presas do complexo penitenciário do Butantã, na zona oeste de São Paulo, fugiram após render carcereiras. Seis estavam com seus bebês no colo. Eu faria o mesmo. Nada pode separar uma mãe de um filho, quando existe amor e vontade de cuidar da criança.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

João Herrmann

A morte do deputado federal João Herrmann Neto (PDT), na madrugada do domingo de Páscoa, assustou todo mundo que conhecia o parlamentar e usineiro.

Porque Herrmann era um homem alto, forte, extremamente disposto. Parecia muito saudável. É difícil entender como um choque térmico na saída de uma sauna provoca um edema pulmonar agudo e a morte. Eu nunca tinha ouvido falar disso, mas foi isso que aconteceu.

Há dois anos eu e a fotógrafa Juliana Lobato passamos uma manhã na usina de Herrmann, no distrito de Guaricanga, em Presidente Alves. A matéria era sobre etanol e o usineiro, naquela época sem mandato, mostrou toda a cadeia de produção de sua propriedade.

Isso significou entrar na usina, subir escadas perigosas, descer, subir de novo, uma maratona cansativa. Pelo menos para nós duas. Teve uma hora em que eu não queria ver mais nada. Não aguentava mais aquelas escadas, algumas de dar medo. Mas ele não deu a menor chance de desistência. Tivemos que subir e descer e ouvir as explicações sem fim sobre a produção de etanol. Herrmann não perdeu o fôlego.

Um dos funcionários mais antigos dele confidenciou: o patrão adorava mostrar essa usina. Adorava política também e, sempre que podia, falava sem parar sobre o assunto. Atualmente, dizia estar desgostoso com o vazio ideológico do Congresso Nacional.

Após ver todas as etapas da produção do etanol, Herrmann fez eu e a Juliana subirmos na caminhonete dele e percorrer a fazenda para ver a plantação de cana. Teve uma hora em que o veículo ficou à beira de um barranco. Deu medo de novo. Em nós duas, não nele. O usineiro manobrou e deu um jeito de sair dali.

Em março deste ano, fui cobrir a inauguração do escritório político do deputado em Bauru. Achei impressionante o número de pessoas presentes e o requinte do evento - não muito comum por aqui. Mas a cena mais marcante foi de Rodrigo, 10 anos, o filho mais novo. O menino acompanhou todo o evento agarrado aos braços do pai, até na hora do discurso. Eram muito apegados, contam os amigos.

Ontem, infelizmente fiquei perto de Rodrigo enquanto ele e a mãe esperavam o corpo de Herrmann ser preparado para o velório e enterro em Campinas. Muito triste.

O deputado gostava muito de falar sobre sua longa amizade com o presidente Lula e outras autoridades do governo federal. Acho que até exagerava. Hoje, pensando bem, imagino que ele vivia um momento realmente difícil para um político que acreditava na ideologia e queria convencer com argumentos e informações. Deve ter falado sozinho muitas e muitas vezes.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Calma, muita calma

Fui fazer uma matéria sobre um grupo que dá apoio a portadores da doença de Parkinson e achei um número assustador: três parkinsonianos são ex-funcionários do IPA (Instituto Penal Agrícola), com certeza um dos locais de trabalho mais tensos de Bauru. Será apenas coincidência? Não acredito.

O pai de uma das voluntárias, também doente de Parkinson, foi um bancário metódico a vida inteira. Deve ter vivido anos sob tensão. Uma vez, ouvi de um caixa de banco que ele torcia para acontecer alguma coisa diferente durante o dia. Era uma forma de escapar, pelo menos um pouco, do tédio das operações bancárias.

Li recentemente um texto em que as pessoas que desenvolvem a capacidade de fugir do estresse são consideradas as mais inteligentes. Vivem melhor e, pelo jeito, também vivem mais.

Sempre achei que os baianos estão certos! Ainda vou morar na Bahia!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Febre amarela

Drauzio Varella já teve febre amarela. Quase morreu. Praticamente sem forças, manteve a consciência e sofreu ao perceber que estava perto do fim porque não tomou a vacina indicada antes de uma expedição ao Rio Negro. Sofria ao imaginar a dor da mulher e das filhas.

Após escapar, ele escreveu um livro bem interessante, "O Médico Doente". Agora, com a onda de febre amarela na região de Piraju, aqui perto de Bauru, voltou ao tema num artigo publicado em seu site.

Vale a pena ler.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tanque?

Gente, quase não acreditei! Olha o exemplo que o vereador Segalla (DEM) deu agora há pouco, na Câmara, para falar sobre as doenças provocadas pela vida sedentária de grande parte da população: "as mulheres já não lavam mais a roupa no tanque".

O quê? Tanque? Em pleno século 21?

É, vereador, as mulheres já não lavam mesmo a roupa no tanque. As mulheres trabalham, cuidam dos filhos, muitas assumem sozinhas as responsabilidades da família e sequer têm tempo de prestar atenção da política. Também, com a política que está por aí...

Ah, este é o mesmo vereador que no Dia Internacional da Mulher disse que a data era desnecessária, porque para ele os dois sexos já são iguais, com os mesmos direitos, etc e tal.

Sim, a máquina de lavar roupa (como até o Vaticano já divulgou) é uma grande revolução na vida das mulheres - que, pelo menos no Brasil, fazem quase tudo sozinha em casa, apesar de estarem no mercado de trabalho, enfrentando os mesmos desafios que os homens que também não usam o tanque como exercício.

Tanque? Não tinha um exemplo menos machista para dar?

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Outro vereador, Carlinhos do PS (PP), falou sete "a coisa está medonha" para referir-se aos problemas na saúde municipal. Tem razão, o setor é um dos mais problemáticos de Bauru. Mas que falta de palavras no repertório...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A família de André

A lição desta semana vem de uma família que passa por uma situação muito triste. É a família de André, fisioterapeuta de 28 anos. Ele morreu há menos de um mês, vítima de dois aneurismas. Estava casado há um ano, tinha muitos planos e era do tipo de jovem que passa a vida rodeado por amigos.

Fui ontem à casa da família por causa de uma matéria sobre aneurismas e AVCs em pacientes jovens, o que sempre é chocante. Eles moram numa casa grande, cheia de gente e com cara de lar mesmo - tinha bagunça na sala, o telefone sem fio tocou e ninguém sabia onde estava e tomei um cafezinho com canela preparado pelo pai de André.

Os pais choraram bastante, mas também riram lembrando de como o filho era alegre e animado. É um momento muito íntimo, de questionamentos, de sensação de poder ter feito mais para evitar a morte. É também um momento em que os mais próximos ainda vivem sob uma espécie de anestesia, sem acreditar no que aconteceu. Os amigos continuam rodeando a família, o que evitou até agora a imensa sensação de vazio causada por uma morte precoce.

É complicado participar - e ainda fazer perguntas - de um momento tão doloroso e familiar como este. Mas não é a primeira situação dessas que vivo, na verdade até já sei controlar minhas emoções e falar palavras de consolo - só não sei se servem para alguma coisa.

Já tive até que segurar as lágrimas, com todas as forças, diante de um casal que sabia previamente da morte do filho de dez anos, vítima de um grave câncer no cérebro. A criança estava presente, o que obrigou a todos a exercitar o auto-controle.

Bom, no caso da família de André, além da tristeza, ficou uma lição de vida. Os pais, mesmo abalados, querem passar uma mensagem aos jovens. Acham que a vida deve ser intensa e cheia de amor, como a do filho caçula.

André trabalhava numa clínica, num curso de pós-graduação e ainda tinha disposição para atender os amigos sem cobrar nada. Fazia parte de um grupo dos doutores da alegria, praticava vários esportes e, segundo a mulher, Juliana, fazia festa até para comer arroz com ovo.

Segundo a mãe, nos 13 dias em que passou na UTI, grupos de amigos se revezavam para visitar a família no hospital. Ele era ciclista e num desses dias os companheiros de passeio foram ao local com suas bicicletas, deram as mãos e rezaram pelo amigo.

Tive acesso ao orkut de André e vi algo cada vez mais raro, infelizmente: ele, os irmãos e os pais se adoravam e com frequência mandavam recados só para dizer: eu te amo.

Depois da morte, Aline tatuou o nome dos irmãos nas costas. Renato deixou a cidade que escolheu para viver, perto de Natal, e voltou para Bauru para ficar ao lado do irmão nos seus últimos dias e acompanhar a recuperação dos pais.

Sai da casa, após horas de conversa, com uma rosa nas mãos. Presente de Manuel, o pai de André. Ele é um dos mais tristes com a perda, chora o tempo todo, está com a imagem do filho morto na cabeça, ainda vai sofrer muito. Mesmo assim continua gentil e não esqueceu a flor com que costuma presentear as mulheres.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Lula chique

Quem diria... O presidente Lula "imitou" o Carlão Otaviani, ex-prefeito e atual gerente de Agudos. É o Carlão que costuma chamar suas realizações de chique.

Mas a cena mais engraçada é Obama chamando o presidente brasileiro de "o cara". É impressão minha ou Lula não deu muita bola?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Roleta-russa

Queria que todo motoqueiro "rebelde" visse a cena que eu vi no domingo à tarde, em plena Nações Unidas. Estava de plantão e precisei correr até a avenida por causa de um acidente de moto. Cobrir acidente é sempre horrível, mas este foi um dos mais impressionantes.

Logo ao chegar, o primeiro espanto. A moto estava muito longe das duas vítimas, dois garotos, um de 18 e o outro de 19 anos. Achei estranho e foi a primeira pergunta que fiz aos policiais. Eles explicaram que o veículo ficou longe dos corpos por causa da alta velocidade.

Em seguida, vi o radar, com base de concreto, e um poste de sinalização derrubados. Os dois meninos é que provocaram as quedas. Com o impacto dos corpos. Não sabia que isso era possível. Chocante.

Aí me afastei e olhei para a cena inteira, de longe. Era aterrorizante. Dois corpos cobertos com uma espécie de alumínio, um perto do outro. Ao lado, chinelos e os capacetes. O radar caiu destruído no meio da Nações (não sei como não atingiu outro veículo) e a placa de trânsito ficou no meio do canteiro central. Várias viaturas e policiais cercaram o local e muitos curiosos pararam nas calçadas. A cerca de 60 metros de distância ficou a moto, quase intacta e cheia de adesivos juvenis.

Vi a perícia chegar, fotografar os garotos, a moto, as marcas do acidente. Depois chegou o carro funerário, com aqueles caixões grandes para transportar os corpos. É muito triste ver gente morta em acidente ser retirada da pista. Logo a cena começou a ser desconstruída. Os curiosos foram embora após a retirada dos corpos e a polícia começou a providenciar a liberação da avenida.

Sou mãe e nessas horas só penso no que sentem os pais de meninos que se matam igual a esses dois da Nações Unidas. Em segundos eles deixam de ser jovens com a vida pela frente e se transformam em cadáveres estendidos no chão.

Qual é a razão dessa roleta-russa diária pelas ruas das cidades?

Cadê a saúde?

O que acontece na saúde pública em Bauru é muito absurdo! O problema vem de longe, mas não dá para esperar mais. A solução precisa ser urgente!

Josi, que trabalha aqui na limpeza do jornal, tem um filho pequeno que precisa de atendimento médico. Está com febre e dor de cabeça. Parece sinusite, mas não dá para ter certeza. Só um pediatra pode dizer.

A mãe tentou levar a criança no posto de saúde do Mary Dota, um dos bairros mais populosos de Bauru. Não tinha médico.

"É raro ter médico lá", Josi conta.

Foi no Pronto-Socorro, lotado como sempre. A criança não aguentou esperar. Seriam horas até conseguir um médico. A informação é que apenas um pediatra estava no local.

Mãe e filho foram embora sem conseguir o atendimento. Ela decidiu comprar antibiótico por contra própria. A farmácia vendeu.

Situação insuportável.

Torço por Priscila

Sim, eu tenho alguns preconceitos. É duro admitir isso, porque sou do tipo que odeia preconceitos e já fui capaz de me sentir superior a eles. Mas vez ou outra sou obrigada a admitir que nem sempre resisto aos conceitos formados sem conhecimento de causa.

Aconteceu nesta última edição do Big Brother.

Sim, eu assisto Big Brother e consigo me envolver com as emoções humanas ali representadas, apesar do exagero do merchandising e das manipulações, algumas evidentes demais.

O caso é que olhei com muito preconceito para uma das participantes, Priscila. Ficou claro que ela foi escolhida pela semelhança com as tais mulheres-frutas. É muito parecida com a mulher-melancia. E tem cara de atriz pornô.

Agora, eu mesma pergunto: e daí? Priscila não tem qualidades só porque se enquadra na moda de comparar bunda com melancia?

Ela percebeu logo a armadilha em que poderia cair. No meio do programa, chorou ao falar sobre o olhar estreito que o mundo lhe dirige. Na edição de ontem, Fran, uma das participantes, admitiu que via Priscila justamente com essa visão. E, na convivência, percebeu que ela não é só uma mulher que inspira aos homens pensamentos eróticos. Ninguém é só isso.

Fran descreveu a moça de Mato Grosso como uma mulher que precisou enfrentar a vida, criar os irmãos menores e lutar por uma vaga ao sol.

Assisto Big Brother, mas não chegava ao ponto de torcer contra ou a favor de algum participante. Pelo menos até hoje. Sei, Priscila vai sair e posar para a Playboy, ganhando ou não o R$ 1 milhão. Provavelmente fará dinheiro com sua figura sensual. De novo, faço a pergunta para mim mesma: e daí?

Desta vez, torço sim. Torço por Priscila. Talvez até como forma de aprender de vez a combater o preconceito.