segunda-feira, 23 de março de 2009

James Bronze

Na última sexta-feira entrevistei o jornalista Chico Pinheiro, da Globo. Na verdade, entrevistei não é o termo correto. Ouvi as idéias dele sobre o mundo, disparadas rapidamente, quase sem tempo para perguntas e com bastante bom humor.

Chico foi convidado para uma palestra na Associação Comercial e Industrial de Bauru. Público formado por homens e mulheres de negócio, todos vestidos formalmente, bem penteados e até maquiadas (elas, claro). Com certeza esperavam um jornalista compenetrado, cheio de informações e dicas econômicas. Chico não é nada disso.

Ele chegou de camiseta e descontraído. Estranhou a entrevista coletiva marcada pelos organizadores. "Vocês são repórteres? Eu também", lembrou. Começou a palestra imitando Chacrinha, confirmou não ser especialista em economia e até revelou sua primeira reação diante do tema da noite, o associativismo. "O que é isso?"

Bom, mas o que quero contar é que foi muito engraçado - e inusitado - ver o jornalista simpático, fã de música brasileira e de cerveja questionar o mercado justamente para os homens e mulheres que fazem o mercado. Ele chegou a falar no fim do mundo, por causa do desrespeito às leis da natureza (estas sim fundamentais) e do consumismo enlouquecido.

Chico estava indignado com uma cena chocante mostrada no jornal que apresenta em São Paulo, o SPTV. As imagens levadas ao ar são de um advogado morto afogado dentro do próprio carro, na enchente da semana passada, na capital. A água cobriu o carro e o socorro chegou tarde. Um horror.

Mas também falou de coisas alegres. De James Bronze, um nordestino que conheceu em Porto de Galinhas, numa semana de folga. James é vendedor ambulante. Trabalha na praia. O bordão dele, entre uma venda e um mergulho no mar: "Eu me lovo". Qual a razão de tanta auto-estima, quis saber o jornalista branquelo? James lembrou que trabalha no paraíso. Vende para estrangeiros em visita a uma das regiões mais bonitas do Brasil. Mergulha no mar toda vez que tem vontade. Está sempre bronzeado. Gasta o que ganha e mora numa casa pequena, mas adorável. "Vou dormir cansado e feliz", arrematou.

"Essa figura vem na contramão de tudo que a gente tem pregado, o tal mercado...", concluiu Chico, encantado com James Bronze.

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