Ao falar na tribuna da Câmara ontem à noite, na solenidade de diplomação dos eleitos este ano, o prefeito de Bauru, Tuga Angerami (sem partido), ofereceu à cidade o melhor de sua longa trajetória política: um discurso claro, emocionado, em que ao mesmo tempo fez um balanço de sua administração e um resumo do que Rodrigo Agostinho (PMDB) encontrará pela frente.
Tuga comparou ele mesmo hoje, em seu segundo mandato, com o Tuga de 30 anos atrás, um jovem político inconformado, rebelde diante dos velhos coronéis da política nacional e até revolucionário ao descentralizar a saúde, a cultura e a educação.
Para Rodrigo, lançou palavras de admiração, de homem público no final da carreira que olha para o novo e faz uma viagem ao passado.
Foi um momento bonito - e raro - da política.
O atual prefeito também aproveitou para pedir compreensão e apoio à nova administração. Falou sobre a disposição de Rodrigo para a vida pública, de sua dedicação e vontade de realizar. Ao mesmo tempo, lembrou que não será fácil cumprir as promessas, citou a crise econômica mundial e a necessidade de clima pacífico na cidade.
"Poupem o jovem prefeito", pediu, numa frase marcante.
O discurso de Tuga teve a sorte de ser feito num dia em que, após longos anos, a cidade conseguiu o CRP (Certificado de Regularidade Previdenciária), documento que faltava para voltar a receber verbas federais e ser inserida no boom de desenvolvimento lulista e que o governo federal pretende manter mesmo com a crise global.
Ali, emocionado, falando daquele jeito e diante de um prefeito eleito jovem, animado e que gosta do contato popular, Tuga conseguiu dar uma dimensão histórica a seu segundo mandato como prefeito.
Ele foi o político experiente que teve a calma e a coragem suficiente para "arrumar a casa", pagar as contas e abrir as portas para o novo. Este encontrará uma situação privilegiada, mesmo com a crise, mesmo com o secretariado que frustra expectativas, mesmo com o fato de Bauru ainda ser uma cidade bastante pobre.
O que será para sempre difícil compreender é porque o prefeito que se despede não usou como poderia seu grante talento retórico e seu carisma nos últimos quatro anos.
A população continuaria a reclamar da falta de obras, das ruas esburacadas, do atendimento precário na saúde e dos bairros sem asfalto. Mas, com Tuga mais presente, seria também mais fácil entender a decisão de sanear as finanças primeiro para depois entregar a prefeitura a um jovem político ousado.
A opção pelo silêncio a maior parte do tempo foi cruel com o próprio prefeito - e ele parece saber disso.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
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