Um dos casos mais descarados de corrupção que já vi teve como protagonista um vereador em começo de mandato. Ele negociou abertamente a obtenção de dinheiro ilícito, foi gravado, denunciado e cassado. Tentou desmentir, mas não deu. A voz era dele, as mentiras eram desmascaradas rapidamente, o advogado era péssimo. A carreira pública do indivíduo acabou ali. Este político tremia - literalmente - na hora de dar entrevista sobre o caso nebuloso em que se meteu. Era praticamente um corrupto declarado, mas isso não me impediu de achar constrangedor estar diante de um homem na fase mais feia de sua vida.
Teve também a história de um secretário falastrão. De novo uma gravação revelou ao público que ele sabia muita coisa, fingia não saber e nos bastidores entregava quase tudo. Era um ser estranho, cheio de pompa, mas com poucas realizações para mostrar. Sabe aqueles casos em que a fama é maior que o conteúdo? Por diversas razões, a tal gravação reveladora veio parar em minhas mãos e eu tive a tarefa profissional de divulgá-la. O secretário perdeu o emprego e a fama. Certo dia, num supermercado, reencontrei o ex-famoso. Não gostei da sensação de ver o homem que havia ajudado a derrubar.
Assisti a decadência de outros políticos. Alguns deles vi presos - uns envergonhados, outros nem isso. Num dos casos de descida ladeira abaixo, o ex-homem público não chegou a ser preso, mas ficou tão acabado mal tinha forças para responder.
Claro, jornalistas têm a obrigação de denunciar tudo de errado que chega às suas mãos. Em muitas situações a exposição pública é a única pena que os corruptos vão pagar. Não dá para ter dó na hora de fazer questionamentos, todas as perguntas são válidas.
Só que chega um momento em que não dá mais. Para sobreviver, preciso acreditar que existem exemplos positivos na humanidade. E existem, felizmente.
Hoje vou acompanhar o início da viagem de pessoas que vão passar o Carnaval em Santa Catarina, como voluntárias. São profissionais liberais que aproveitarão os dias de folga para tirar lama de casas e distribuir alimentos e roupas.
Confesso: não sou capaz disso. Talvez um dia seja. Agora tudo que não quero é conviver com o lado feio do mundo.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
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