Viajar pelo Brasil é sempre uma experiência impressionante.
Uma vez fui de ônibus até Salvador, Bahia. Não sabia o que me esperava quando embarquei. A viagem São Paulo-Salvador demora quase dois dias. Levei só uma maçã e dinheiro para comer nos postos do caminho. Não consegui. Os salgadinhos encharcados de gordura não desciam após passar horas no ônibus fétido, em que passageiros fumavam livremente e não se intimidavam em usar o acanhado e sujo banheiro.
Essa é a parte pitoresca. As cenas tristes surgiram nos povoados à beira das estradas, no sertão baiano. Crianças pobres, penduradas nas janelas do ônibus, pedindo comida, dinheiro, tentanto vender alguma coisa, implorando atenção em meio à poeira e ao calor.
Imagens marcantes, inesquecíveis. Assim como a primeira cena deslumbrante de Salvador, até hoje a cidade que mais gosto no Brasil: o mar visto de uma janela, meio sem querer, eu nem sabia que estava tão perto da praia.
Na capital da Bahia, o mar sempre aparece nas janelas mais inesperadas. E tem o Pelourinho, que provoca arrepios com sua carga de história, beleza arquitetônica e realidade brasileira.
No último janeiro, estive em outra cidade nordestina, Maragogi, em Alagoas. Lá a miséria estava mais próxima. Não a vi passar pela janela e sim cercando o hotel em que fiquei. É uma sensação estranha passar dias num oásis de conforto rodeado de pobreza.
Como amo o mar e todo seu entorno, fiquei inconformada ao ver praias lindas ocupadas desordenamente, potencial turístico desperdiçado.
A cena mais impressionante, no entanto, estava em alto mar. Maragogi é famosa pelas galés, piscinas naturais que se formam quando a maré baixa. O passeio é "obrigatório", mas se soubesse o que iria encontrar não teria colocado os pés no barco. Uma multidão tentava conhecer o local, com direito a congestionamento de embarcações, vendedor de churrasco e cerveja em alto mar e barulho típico das grandes cidades.
Solemar, antiga moradora do beira-mar, contou que visitava as piscinas quando era criança, junto com os avós. Eram passeios belos e tranquilos. Incrédula, agora vê os corais pisoteados a exploração sem controle do maior patrimônio de Maragogi.
Brasil, Brasil.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
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