Preconceito é coisa séria. Às vezes se manifesta de forma tão bruta que fica até ridículo.
Na minha opinião, este é o caso da crítica feroz da colunista Barbara Gancia, na Folha de S. Paulo, contra a folia carnavalesca de Marisa Letícia, a primeira-dama, mulher de Lula.
Para quem não viu - será que alguém não viu? - dona Marisa desceu do camarote em que assistia ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, foi para o chão e dançou, animada e feliz.
Deu trabalho para os seguranças, obrigados a acompanhá-la, e provocou alvoroço no sambódromo - assim como outras celebridades que passaram pelo local.
Vi a imagem e achei simpática. Pelo que sei, Marisa é fã das manifestações populares do Brasil, inclusive mantém a tradição das festas juninas. Nada mais normal do que, em pleno Carnaval, abandonar a postura discreta que adotou no poder e cair no samba.
Pois, para Barbara Gancia, colunista que nasceu na elite, a mulher foi escrachada, ficou suada e descabelada e dançou "como se não houvesse amanhã". Ah, e cometeu o "grande" pecado de tomar uma cervejinha. Barbara até a comparou a outra primeira-dama, Dulce Figueiredo, famosa pelo deslumbramento.
Alô, Barbara Gancia!! Preconceito tem limite. Qual é o problema em sambar em pleno Carnaval? Marisa atrapalhou o quê, o desfile sem graça e morno da Mocidade Independente?
Ao contrário do que a colunista ranzinza escreveu, este não é o legado de Marisa. Jornalistas que realmente conhecem de perto o cotidiano do casal, desde a época das greves de São Bernardo, descrevem a primeira-dama como uma mulher forte, que gosta de atuar apenas nos bastidores, geralmente como uma base sólida para a família. É uma opção, que deve ter sido fundamental na trajetória do presidente.
Ano que vem, tomara que essa gente azeda caia no samba também.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Barulho no cinema
Torço para que nunca acabe o público do cinema, mas adoro as salas vazias quando vou assistir um filme. Também gosto bastante de ir sozinha. A explicação: preciso do silêncio para me concentrar e mergulhar nas histórias. Quando estas são fortes, saio até atordoada das sessões. Como se alguma coisa chacoalhasse por dentro. E preciso de chacoalhões de vez em quanto.
A última vez que fui ao cinema, no entanto, não tive sorte. A sala estava cheia e sentei ao lado de um casal falastrão de amigos. Eles entraram barulhentos, já com as luzes apagadas, e assim continuaram. Pedi silêncio, em vão. Aí é que falaram mesmo, sem parar.
Era para eu ter ficado com raiva, mas ao ouvir os comentários, o que infelizmente era inevitável, fui tomada por uma sensação de calma. Pensava: o negócio é superar e insistir na concentração diante da telona.
Aí, durante a projeção, veio uma sensação que pode até parecer feia, pretensiosa, mas é sincera: achei que era superior ao casal e que, por isso, deveria ignorá-lo.
Os dois amigos viram o filme, "Foi Apenas um Sonho", como se fosse a mais básica novela das 8. Não entenderam que a história se passa nos anos 50. Não compreenderam o drama do casal suburbano, dividido entre o conforto e a segurança de uma vida comum e a aventura de uma mudança para Paris. Ficavam confusos diante de cenas que não tinham explicações explícitas. Ou seja, além da falta de educação, têm a ignorância como característica comum.
Tenho outra sensação bastante incômoda - e também antipática - que quero confessar: acho o público de Bauru meio caipira, no mal sentido da palavra. Nunca vi ninguém tagarelar impunemente numa sala de cinema de São Paulo, por exemplo. Aqui, é como se fosse normal. Só eu pedi para o casal ficar quieto.
O que acontece?
A última vez que fui ao cinema, no entanto, não tive sorte. A sala estava cheia e sentei ao lado de um casal falastrão de amigos. Eles entraram barulhentos, já com as luzes apagadas, e assim continuaram. Pedi silêncio, em vão. Aí é que falaram mesmo, sem parar.
Era para eu ter ficado com raiva, mas ao ouvir os comentários, o que infelizmente era inevitável, fui tomada por uma sensação de calma. Pensava: o negócio é superar e insistir na concentração diante da telona.
Aí, durante a projeção, veio uma sensação que pode até parecer feia, pretensiosa, mas é sincera: achei que era superior ao casal e que, por isso, deveria ignorá-lo.
Os dois amigos viram o filme, "Foi Apenas um Sonho", como se fosse a mais básica novela das 8. Não entenderam que a história se passa nos anos 50. Não compreenderam o drama do casal suburbano, dividido entre o conforto e a segurança de uma vida comum e a aventura de uma mudança para Paris. Ficavam confusos diante de cenas que não tinham explicações explícitas. Ou seja, além da falta de educação, têm a ignorância como característica comum.
Tenho outra sensação bastante incômoda - e também antipática - que quero confessar: acho o público de Bauru meio caipira, no mal sentido da palavra. Nunca vi ninguém tagarelar impunemente numa sala de cinema de São Paulo, por exemplo. Aqui, é como se fosse normal. Só eu pedi para o casal ficar quieto.
O que acontece?
No meio do 'deserto'
Os bauruenses têm uma relação apaixonada com a aviação - não é à toa que saíram daqui o astronauta Marcos Pontes e Ozires Silva, o fundador da Embraer.
Foi publicada no início desta semana uma matéria que fiz sobre o novo aeroporto da cidade, localizado entre Bauru e Arealva e que recebeu o nome do empresário Moussa Tobias, uma espécie de guru político muito respeitado e já morto.
O aeroporto foi inaugurado há dois anos e quatro meses, em plena campanha eleitoral. Estava em construção há muitos anos, mas a finalização da obra aconteceu às pressas para coincidir com a época em que os políticos pedem votos aos eleitores.
Apesar de novo, o "Moussa Tobias" já apresenta vários problemas - infiltrações, rachaduras, vidros quebrados, etc. Sem falar que vive semi-deserto, não tem restaurante, banca de revista e segurança no estacionamento. Por enquanto, é um empreendimento que não deu certo e já tem sinais de deterioração.
Publicada em plena segunda-feira de Carnaval, a matéria até hoje rende telefonemas e comentários dos tais bauruenses apaixonados por aviação. Num dos comentários, uma mulher é enfática: o jornal BOM DIA precisa dar um jeito nessa situação. Num telefonema, outros dos fanáticos por aviões me orientou a procurar o secretário do Desenvolvimento Econômico, Nico Mondelli, e mandar ele pedir soluções junto à Anac.
Sempre achei estranho aquele aeroporto imenso a 18 quilômetros de Bauru. Toda vez que vou até lá, a sensação se repete - a obra faraônica fica no meio do "deserto".
Muita gente que torce para o crescimento econômico da cidade focou suas esperanças no novo aeroporto, que chegou a ser chamado de internacional sem nunca ter sido. Talvez por isso a decepção tão grande e o medo do local se transformar em mais um elefante branco.
Uma das pessoas que me procurou se apresentou como piloto experiente e garantiu - as promessas jamais vão se realizar. Segundo ele, o "Moussa Tobias" não vai se transformar em grande aeroporto de cargas e não há hipótese de servir ao embarque e desembarque de passageiros internacionais.
Tomara que não seja verdade. Mas que o novo aeroporto desértico é esquisito, isso é.
Foi publicada no início desta semana uma matéria que fiz sobre o novo aeroporto da cidade, localizado entre Bauru e Arealva e que recebeu o nome do empresário Moussa Tobias, uma espécie de guru político muito respeitado e já morto.
O aeroporto foi inaugurado há dois anos e quatro meses, em plena campanha eleitoral. Estava em construção há muitos anos, mas a finalização da obra aconteceu às pressas para coincidir com a época em que os políticos pedem votos aos eleitores.
Apesar de novo, o "Moussa Tobias" já apresenta vários problemas - infiltrações, rachaduras, vidros quebrados, etc. Sem falar que vive semi-deserto, não tem restaurante, banca de revista e segurança no estacionamento. Por enquanto, é um empreendimento que não deu certo e já tem sinais de deterioração.
Publicada em plena segunda-feira de Carnaval, a matéria até hoje rende telefonemas e comentários dos tais bauruenses apaixonados por aviação. Num dos comentários, uma mulher é enfática: o jornal BOM DIA precisa dar um jeito nessa situação. Num telefonema, outros dos fanáticos por aviões me orientou a procurar o secretário do Desenvolvimento Econômico, Nico Mondelli, e mandar ele pedir soluções junto à Anac.
Sempre achei estranho aquele aeroporto imenso a 18 quilômetros de Bauru. Toda vez que vou até lá, a sensação se repete - a obra faraônica fica no meio do "deserto".
Muita gente que torce para o crescimento econômico da cidade focou suas esperanças no novo aeroporto, que chegou a ser chamado de internacional sem nunca ter sido. Talvez por isso a decepção tão grande e o medo do local se transformar em mais um elefante branco.
Uma das pessoas que me procurou se apresentou como piloto experiente e garantiu - as promessas jamais vão se realizar. Segundo ele, o "Moussa Tobias" não vai se transformar em grande aeroporto de cargas e não há hipótese de servir ao embarque e desembarque de passageiros internacionais.
Tomara que não seja verdade. Mas que o novo aeroporto desértico é esquisito, isso é.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Carnaval
Salgueiro ganhou no Rio, com o tema "tambores", que acho muito interessante. Vi trechos do desfile. Vi Carlinhos Brown batucando no alto de um carro alegórico. Só isso já é bem legal, Brown é das figuras mais interessantes da música brasileira. Eu acho. Mas gostei muito da Vila Isabel, que assisti inteira, sem ficar com tédio.
Muito estranho
Bauru foi a primeira cidade interiorana a construir um sambódromo, na primeira administração do ex-prefeito Izzo Filho - cassado e preso no segundo mandato. Com certeza é também a primeira cidade - neste caso acho que do mundo! - a ter um sambódromo e realizar o carnaval popular na rua. E no segundo ano consecutivo. Que coisa estranha!!
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
O lado bonito
Um dos casos mais descarados de corrupção que já vi teve como protagonista um vereador em começo de mandato. Ele negociou abertamente a obtenção de dinheiro ilícito, foi gravado, denunciado e cassado. Tentou desmentir, mas não deu. A voz era dele, as mentiras eram desmascaradas rapidamente, o advogado era péssimo. A carreira pública do indivíduo acabou ali. Este político tremia - literalmente - na hora de dar entrevista sobre o caso nebuloso em que se meteu. Era praticamente um corrupto declarado, mas isso não me impediu de achar constrangedor estar diante de um homem na fase mais feia de sua vida.
Teve também a história de um secretário falastrão. De novo uma gravação revelou ao público que ele sabia muita coisa, fingia não saber e nos bastidores entregava quase tudo. Era um ser estranho, cheio de pompa, mas com poucas realizações para mostrar. Sabe aqueles casos em que a fama é maior que o conteúdo? Por diversas razões, a tal gravação reveladora veio parar em minhas mãos e eu tive a tarefa profissional de divulgá-la. O secretário perdeu o emprego e a fama. Certo dia, num supermercado, reencontrei o ex-famoso. Não gostei da sensação de ver o homem que havia ajudado a derrubar.
Assisti a decadência de outros políticos. Alguns deles vi presos - uns envergonhados, outros nem isso. Num dos casos de descida ladeira abaixo, o ex-homem público não chegou a ser preso, mas ficou tão acabado mal tinha forças para responder.
Claro, jornalistas têm a obrigação de denunciar tudo de errado que chega às suas mãos. Em muitas situações a exposição pública é a única pena que os corruptos vão pagar. Não dá para ter dó na hora de fazer questionamentos, todas as perguntas são válidas.
Só que chega um momento em que não dá mais. Para sobreviver, preciso acreditar que existem exemplos positivos na humanidade. E existem, felizmente.
Hoje vou acompanhar o início da viagem de pessoas que vão passar o Carnaval em Santa Catarina, como voluntárias. São profissionais liberais que aproveitarão os dias de folga para tirar lama de casas e distribuir alimentos e roupas.
Confesso: não sou capaz disso. Talvez um dia seja. Agora tudo que não quero é conviver com o lado feio do mundo.
Teve também a história de um secretário falastrão. De novo uma gravação revelou ao público que ele sabia muita coisa, fingia não saber e nos bastidores entregava quase tudo. Era um ser estranho, cheio de pompa, mas com poucas realizações para mostrar. Sabe aqueles casos em que a fama é maior que o conteúdo? Por diversas razões, a tal gravação reveladora veio parar em minhas mãos e eu tive a tarefa profissional de divulgá-la. O secretário perdeu o emprego e a fama. Certo dia, num supermercado, reencontrei o ex-famoso. Não gostei da sensação de ver o homem que havia ajudado a derrubar.
Assisti a decadência de outros políticos. Alguns deles vi presos - uns envergonhados, outros nem isso. Num dos casos de descida ladeira abaixo, o ex-homem público não chegou a ser preso, mas ficou tão acabado mal tinha forças para responder.
Claro, jornalistas têm a obrigação de denunciar tudo de errado que chega às suas mãos. Em muitas situações a exposição pública é a única pena que os corruptos vão pagar. Não dá para ter dó na hora de fazer questionamentos, todas as perguntas são válidas.
Só que chega um momento em que não dá mais. Para sobreviver, preciso acreditar que existem exemplos positivos na humanidade. E existem, felizmente.
Hoje vou acompanhar o início da viagem de pessoas que vão passar o Carnaval em Santa Catarina, como voluntárias. São profissionais liberais que aproveitarão os dias de folga para tirar lama de casas e distribuir alimentos e roupas.
Confesso: não sou capaz disso. Talvez um dia seja. Agora tudo que não quero é conviver com o lado feio do mundo.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Vida de mulher
Acordei cedo, às 7h. Ainda estava com sono, porque durmo tarde. Mas Pedro, 2, despertou, pediu mamadeira e depois quis sair do berço. Brinquei um pouco com ele, a babá chegou, falou sobre o namorado e fui tomar banho. Às 8h30 estava na rua, para comprar embalagem para presente. Paloma, 8, tem hoje à noite o aniversário da irmã de sua melhor amiga. Comprei a caixa de presente e fui buscar minha mãe para uma sessão cabeleireiro-manicure que ocupou a manhã inteira. Voltei para casa, embalei o presente, engoli o almoço e fui levar Paloma para a escola. Agora estou no trabalho. Tinha uma entrevista às 14h, mas o entrevistado desmarcou - pela segunda vez. Tenho outra matéria às 16h. Hoje já é quinta-feira, quero escrever logo as matérias de domingo, mas a semana pré-Ccarnaval é das piores do ano. Todo mundo quer deixar tudo para depois. Vou trabalhar até as 21h30, passar no supermercado e pegar a Paloma na festa de aniversário. Em casa, talvez assista o Big Brother - hoje é prova do líder, minha filha gosta quando a resistência dos confinados é desafiada. Tomo banho por volta da meia-noite e então pretendo dormir. Amanhã preciso comprar as fantasias das crianças, levar um exame no médico, procurar novas pautas...
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
A crise da Mônica e do Cebolinha
Todo mundo que tem filhos entre 7 e 8 anos sabe: os pré-pré-adolescentes estão apaixonados pelos mangás da Turma da Mônica Jovem.
Maurício de Souza criou a série para os já adolescentes, mas as crianças é que foram fisgadas pelas aventuras dos crescidos Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão. É impressionante! As crianças lêem as mesmas histórias várias vezes, decoram trechos, fazem coleção, levam os mangás para a escola...
Agora jovens, os integrantes da turma até namoram. Um casal inusitado reúne a Mônica e o Cebolinha, mesmo após tantas coelhadas e olhos roxos.
E não é que Paloma, 8, teve sua primeira grande crise de tristeza justamente por causa desse namoro? Parece que o Cebolinha ameaçou gostar de outra garota, ou coisa parecida. A Mônica ficou triste, deu para ver as lágrimas. E minha filha ficou inconsolável.
A dor de amor da Mônica - que Paloma sentiu na própria pele, numa verdadeira catarse infantil - juntou-se a um início de resfriado, o que a deixou tão desanimada que até pediu para faltar na escola. O que é muito raro em sua rotina de aluna aplicada e super-obediente à professora.
Agora, o mangá da briga do casal está em cima da estante, até o sofrimento passar. Mas acho que o final será feliz. Duvido que o Cebolinha troque a Mônica por qualquer outra garota.
Maurício de Souza criou a série para os já adolescentes, mas as crianças é que foram fisgadas pelas aventuras dos crescidos Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão. É impressionante! As crianças lêem as mesmas histórias várias vezes, decoram trechos, fazem coleção, levam os mangás para a escola...
Agora jovens, os integrantes da turma até namoram. Um casal inusitado reúne a Mônica e o Cebolinha, mesmo após tantas coelhadas e olhos roxos.
E não é que Paloma, 8, teve sua primeira grande crise de tristeza justamente por causa desse namoro? Parece que o Cebolinha ameaçou gostar de outra garota, ou coisa parecida. A Mônica ficou triste, deu para ver as lágrimas. E minha filha ficou inconsolável.
A dor de amor da Mônica - que Paloma sentiu na própria pele, numa verdadeira catarse infantil - juntou-se a um início de resfriado, o que a deixou tão desanimada que até pediu para faltar na escola. O que é muito raro em sua rotina de aluna aplicada e super-obediente à professora.
Agora, o mangá da briga do casal está em cima da estante, até o sofrimento passar. Mas acho que o final será feliz. Duvido que o Cebolinha troque a Mônica por qualquer outra garota.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Quero distância
Às vezes não sei bem o que quero. Tenho dúvidas sobre meus próprios desejos. Fico perdida entre as opções. Acho que todo mundo é assim, vez ou outra.
Mas hoje, segunda-feira, 16 de fevereiro, tarde chuvosa, quase fria, tenho uma certeza: nunca mais quero acompanhar, como jornalista, uma sessão da Câmara de Bauru.
É como se já tivesse cumprido minha cota de sacrifício, entendem? Na verdade, quando comecei a trajetória de repórter política, gostava dos embates no Legislativo. Hoje não suporto. A explicação que encontrei é que na época aprendia a reconhecer esse mundo de manobras, vaidades, discursos e mais discursos em torno de projetos próprios, gerados individualmente. Mundo conhecido e decifrado, quero distância.
Na redação, pela TV, nesta tarde estranha de verão ouvi pelo menos duas pérolas. Pérola número 1: um vereador citou Barack Obama para defender suas convicções sobre a ampliação da licença-maternidade. "Sim, nós podemos", ele disse. Pérola número 2: outro vereador sugeriu que as autoridades de Bauru encontrem formas de bajular desembargadores do Tribunal de Justiça e, assim, consigam que a cidade seja escolhida para sediar uma regional do órgão.
Argh!!
Mas hoje, segunda-feira, 16 de fevereiro, tarde chuvosa, quase fria, tenho uma certeza: nunca mais quero acompanhar, como jornalista, uma sessão da Câmara de Bauru.
É como se já tivesse cumprido minha cota de sacrifício, entendem? Na verdade, quando comecei a trajetória de repórter política, gostava dos embates no Legislativo. Hoje não suporto. A explicação que encontrei é que na época aprendia a reconhecer esse mundo de manobras, vaidades, discursos e mais discursos em torno de projetos próprios, gerados individualmente. Mundo conhecido e decifrado, quero distância.
Na redação, pela TV, nesta tarde estranha de verão ouvi pelo menos duas pérolas. Pérola número 1: um vereador citou Barack Obama para defender suas convicções sobre a ampliação da licença-maternidade. "Sim, nós podemos", ele disse. Pérola número 2: outro vereador sugeriu que as autoridades de Bauru encontrem formas de bajular desembargadores do Tribunal de Justiça e, assim, consigam que a cidade seja escolhida para sediar uma regional do órgão.
Argh!!
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Brasil
Viajar pelo Brasil é sempre uma experiência impressionante.
Uma vez fui de ônibus até Salvador, Bahia. Não sabia o que me esperava quando embarquei. A viagem São Paulo-Salvador demora quase dois dias. Levei só uma maçã e dinheiro para comer nos postos do caminho. Não consegui. Os salgadinhos encharcados de gordura não desciam após passar horas no ônibus fétido, em que passageiros fumavam livremente e não se intimidavam em usar o acanhado e sujo banheiro.
Essa é a parte pitoresca. As cenas tristes surgiram nos povoados à beira das estradas, no sertão baiano. Crianças pobres, penduradas nas janelas do ônibus, pedindo comida, dinheiro, tentanto vender alguma coisa, implorando atenção em meio à poeira e ao calor.
Imagens marcantes, inesquecíveis. Assim como a primeira cena deslumbrante de Salvador, até hoje a cidade que mais gosto no Brasil: o mar visto de uma janela, meio sem querer, eu nem sabia que estava tão perto da praia.
Na capital da Bahia, o mar sempre aparece nas janelas mais inesperadas. E tem o Pelourinho, que provoca arrepios com sua carga de história, beleza arquitetônica e realidade brasileira.
No último janeiro, estive em outra cidade nordestina, Maragogi, em Alagoas. Lá a miséria estava mais próxima. Não a vi passar pela janela e sim cercando o hotel em que fiquei. É uma sensação estranha passar dias num oásis de conforto rodeado de pobreza.
Como amo o mar e todo seu entorno, fiquei inconformada ao ver praias lindas ocupadas desordenamente, potencial turístico desperdiçado.
A cena mais impressionante, no entanto, estava em alto mar. Maragogi é famosa pelas galés, piscinas naturais que se formam quando a maré baixa. O passeio é "obrigatório", mas se soubesse o que iria encontrar não teria colocado os pés no barco. Uma multidão tentava conhecer o local, com direito a congestionamento de embarcações, vendedor de churrasco e cerveja em alto mar e barulho típico das grandes cidades.
Solemar, antiga moradora do beira-mar, contou que visitava as piscinas quando era criança, junto com os avós. Eram passeios belos e tranquilos. Incrédula, agora vê os corais pisoteados a exploração sem controle do maior patrimônio de Maragogi.
Brasil, Brasil.
Uma vez fui de ônibus até Salvador, Bahia. Não sabia o que me esperava quando embarquei. A viagem São Paulo-Salvador demora quase dois dias. Levei só uma maçã e dinheiro para comer nos postos do caminho. Não consegui. Os salgadinhos encharcados de gordura não desciam após passar horas no ônibus fétido, em que passageiros fumavam livremente e não se intimidavam em usar o acanhado e sujo banheiro.
Essa é a parte pitoresca. As cenas tristes surgiram nos povoados à beira das estradas, no sertão baiano. Crianças pobres, penduradas nas janelas do ônibus, pedindo comida, dinheiro, tentanto vender alguma coisa, implorando atenção em meio à poeira e ao calor.
Imagens marcantes, inesquecíveis. Assim como a primeira cena deslumbrante de Salvador, até hoje a cidade que mais gosto no Brasil: o mar visto de uma janela, meio sem querer, eu nem sabia que estava tão perto da praia.
Na capital da Bahia, o mar sempre aparece nas janelas mais inesperadas. E tem o Pelourinho, que provoca arrepios com sua carga de história, beleza arquitetônica e realidade brasileira.
No último janeiro, estive em outra cidade nordestina, Maragogi, em Alagoas. Lá a miséria estava mais próxima. Não a vi passar pela janela e sim cercando o hotel em que fiquei. É uma sensação estranha passar dias num oásis de conforto rodeado de pobreza.
Como amo o mar e todo seu entorno, fiquei inconformada ao ver praias lindas ocupadas desordenamente, potencial turístico desperdiçado.
A cena mais impressionante, no entanto, estava em alto mar. Maragogi é famosa pelas galés, piscinas naturais que se formam quando a maré baixa. O passeio é "obrigatório", mas se soubesse o que iria encontrar não teria colocado os pés no barco. Uma multidão tentava conhecer o local, com direito a congestionamento de embarcações, vendedor de churrasco e cerveja em alto mar e barulho típico das grandes cidades.
Solemar, antiga moradora do beira-mar, contou que visitava as piscinas quando era criança, junto com os avós. Eram passeios belos e tranquilos. Incrédula, agora vê os corais pisoteados a exploração sem controle do maior patrimônio de Maragogi.
Brasil, Brasil.
Gente cruel
Qual é a diferença entre os neonazistas que atacam imigrantes na Suíça e os universitários que queimam calouros no Brasil?
Na minha opinião, nenhuma.
É gente cruel, que se acha autorizada a bater, humilhar, esfaquear, queimar.
Nos últimos anos, sempre que posso tento escapar das notícias horripilantes. Não quero ouvir, ver, ler. Como sou jornalista, fica difícil fugir sempre. E simplesmente não consigo ser feliz sabendo que existe gente assim.
Na minha opinião, nenhuma.
É gente cruel, que se acha autorizada a bater, humilhar, esfaquear, queimar.
Nos últimos anos, sempre que posso tento escapar das notícias horripilantes. Não quero ouvir, ver, ler. Como sou jornalista, fica difícil fugir sempre. E simplesmente não consigo ser feliz sabendo que existe gente assim.
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