Rodrigo Agostinho, o novo prefeito de Bauru, iniciou o mandato com uma visita ao Ferradura Mirim, um dos bairros mais pobres e violentos da cidade. Levou todo o secretariado, o que provocou cenas inusitadas: homens e mulheres bem nascidos, bem formados, cheios de boas intenções, mas muito distantes daquelas ruas imundas e enlameadas.
Ouvi de um colega: é puro marketing político. Acho que não concordo. Lógico, o jovem prefeito deve avaliar a repercussão de cada ato de sua tão aguardada administração. Mas quem é que não faz isso, todo dia, mesmo longe da política.
A tendência é ver qualquer ato político com desconfiança. As próprias ações dos homens públicos provocaram isso. Rodrigo seria criticado se tivesse descansado no primeiro dia útil de seu governo, uma sexta-feira pós-feriado de Ano Novo. Teria sido atacado caso escolhesse um bairro nobre ou mesmo central para percorrer. Ou seja, ir à periferia foi a melhor atitude mesmo - e não só por causa do tal marketing.
Para os secretários e também para os jornalistas que percorreram as feias ruas do Ferradura, a visita foi didática. É bom sonhar, imaginar novos e melhores tempos, começar o ano com esperança. Mas é importante também ver a realidade nua e crua e saber que é preciso muito ainda para que a vida de milhares de adultos e crianças comece a melhorar.
No bairro, um garoto de 8 anos - e tamanha de 4 - me viu olhando pela janela o centro comunitário em construção. "É a casa dos nóia", explicou. Dois irmãos, um pouco maiores, circularam entre as autoridades com metralhadoras de brinquedo. O menino até apontou para a comitiva oficial e para os jornalistas. A mãe olhou tudo, de cara fechada, sem muita esperança. No final da visita, um homem alto e loiro circulou num carrão e parou para falar rapidamente com o prefeito. Mora no bairro, conversa com algumas lideranças comunitárias e seria uma espécie de chefão do local.
Posso apostar que vários secretários ali presentes nunca tinham ido ao Ferradura. E não tem jeito - ver pessoas vivendo naquela situação tem um forte impacto. Faz repensar prioridades e a forma de encarar o dia-a-dia.
Rodrigo está acostumado a circular na periferia, conhece a máquina pública e deve saber que ações imediadistas não resolvem o problema do bairro. Mas, se eu fosse prefeita, mandaria limpar o Ferradura com urgência. Determinaria que pelo menos o lixo espalhado pela rua fosse tirado do caminho.
É insuportável ver crianças andando em meio aos destroços.
sábado, 3 de janeiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário