quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Rio da tristeza

Quando era menor, minha filha de 9 anos queria conhecer Paris. Sabe como é criança... O desejo não é para o futuro, quando quer, quer para agora.

Tinha uma explicação: um desenho muito bonitinho, sobre uma tartaruga argentina que ia para a França e virava modelo famosa no meio do glamour.

Assistimos dezenas de vezes, decoramos a música, os gestos, as frases da tartarguinha.

Paloma ainda quer conhecer Paris, mas o desejo ficou menos urgente. A gente cresce e aprende a esperar, enquanto sonha, sonha muito.

Nesta nova fase, agora pré-adolescente, minha menina descobriu-se louca para conhecer o Rio de Janeiro. Acho que estimulei isso. Sempre falo: "nossa, conheço a Bahia, Pernambuco, Alagoas, Minas e nunca fui ao Rio, que é aqui do lado..."

Nunca fui porque sempre tive medo. Das balas perdidas e também das que têm alvo certo. Dos assaltos, de ficar perdida e cair num lugar em que é proibido passar, de encontrar uma guerra de traficantes no meio do caminho.

A violência não é uma característica apenas do Rio. São Paulo é uma cidade perigosa, já trabalhei em redação cercada de riscos por todos os lados. Não é nada bom andar pela metrópole e ver pessoas que moram nas ruas, sem que ninguém dê muita bola.

É tudo verdade, mas o Rio... Não sei quando começou, mas há uma guerra evidente de morro contra morro, morro contra polícia, asfalto contra asfalto...

E agora os morros que desabam, carregam casas, igrejas, creches, vidas, tantas vidas...

Parece uma penitência cruel. O Rio é tão lindo, o astral tão alto, lá não poderia ser tudo tão perfeito.

Não, não acredito nisso. O que sinto é muita vergonha de morar num país em que a cidade-símbolo, a região mais bela tenha sido largada ao ponto de um bairro ser construído em cima de um antigo lixão, que agora explodiu.

Comemorei a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas 2016. Paloma viu, entendeu o que isso significa, torceu também. E teve mais vontade ainda de conhecer a cidade maravilhosa.

A vontade não passou, nem a minha nem a dela. Mas a inocência acabou, agora de vez. Não dá mais para cantar o Rio como a cidade do barquinho no mar azul...

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

cara Cris
Que bom que voltou a dar atenção para seu blog. Seu texto flui gostoso e quando feito em revelações pessoais, nada jornalísticas, como os daqui, melhor ainda. Não pare, encontre tempo, pois assunto sei não faltar. Abracitos de um leitor do jornal
Henrique P. de Aquino (www.mafuadohpa.blogspot.com)