Era domingo à noite quando ouvi, no Fantástico, a notícia sobre a morte da menina Isabella.
Na hora, pensei: foi o pai, ou a madrasta, ou os dois juntos.
Não, não se trata de nenhuma inteligência especial. Nem da experiência de jornalista que já viu o começo, o meio e o fim de algumas histórias criminosas.
É que era óbvio. A criança chegou em casa com o pai e a madrasta e, logo depois, apareceu caída, ferida mortalmente, no gramado do prédio. Quem poderia ter matado? Quem estava com ela em casa, claro. Não precisa nem ser esperta para concluir isso.
Depois, todos vimos que o óbvio tinha meandros, possibilidades, atalhos. Mas continuou sendo óbvio, apesar do trabalho "custe o que custar" dos advogados poderosos, entre eles o pai de um dos condenados.
Sou do tipo que preferia que tudo isso fosse mentira e não daquelas que lincharia os Nardoni se os encontrasse. Tenho pena de todos, inclusive do casal desequilibrado que estragou várias vidas num momento de fúria e total idiotice.
É uma pena estranha, que vem do fato de não tolerar ver vidas jogadas fora, inclusive com outras crianças pequenas envolvidas. Entretanto, não é um sentimento de quem seria capaz de perdoar, o perdão não cabe no desfecho desse crime.
Quem mata merece ser punido e quem mata uma filha jogando-a pela janela, quando poderia tê-la salvado da violência, com certeza representa risco à sociedade.
Mas não se trata só disso. O Caso Isabella é histórico. Chega a doer na minha alma ouvir quem defende tratar-se de um problema particular, que deveria ser tratado apenas pelos envolvidos diretos.
A violência contra as crianças já foi vista como algo corriqueiro no cotidiano das famílias. Até há pouco tempo, espancar filhos era uma espécie de direito de pais, uma forma de educar pequenos rebeldes ou birrentos. Gente que se mete nos lares para evitar cenas de truculência contra meninos e meninas indefesos ainda sofre muito para conseguir ser compreendida.
O que aconteceu naquele apartamento do edifício London foi uma cena dramática de violência doméstica, com protagonistas que perderam o controle. Aqui e ali a morte de Isabella já motiva campanhas contra o uso de tapas, empurrões, beliscões e outras coisas grotescas na hora de lidar com as crianças. É preciso mais, bem mais. Leis drásticas para pais que atacam filhos. Campanhas para mostrar que bater não é, nunca foi, educar. Gente que se posiciona sobre o assunto.
Para a Justiça, trata-se também de um caso emblemático. Afinal, vamos ser claros: não é todo dia que vemos a polícia investigar direito, com todo o arsenal da inteligência científica. Não é todo dia que a Justiça é feita.
Talvez daqui para frente a apuração competente e o rigor judicial aplicados numa história que comoveu o Brasil virem exemplo a ser seguido. Talvez. E tomara.
sábado, 27 de março de 2010
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