segunda-feira, 21 de junho de 2010

Não tem mais bobo não

Copa do Mundo não é só futebol, talvez nunca tenha sido, em 2010 isso é ainda mais explícito.
É também moda, política, comportamento, religião, Twitter... Tudo junto, uma coisa revelando a outra.
As chuteiras em busca da bola como metáfora da vida, seus altos e baixos.
Maradona de terno e gravata é um pedido das filhas. O craque já foi desvairado, nunca pai distante. Pelo menos é o que parece.
Seguir os conselhos das meninas certamente não foi o maior esforço na vida do homem que já chegou à beira da morte, numa dependência química pública, desconcertante.
E ele conseguiu se recuperar, agora dando medo por causa dos goleadores que comanda.
Terno e gravata no campo, promessa de strip-tease para depois. Nada mais Maradona do que sair pelado para comemorar o título, não é não?
Dá um pouco de inveja de toda essa passionalidade, futebol combina com paixão. Não com rabugice crônica, credo.
Rabugento, teimoso, burocrático, mas elegante. Na estreia brasileira, na falta de beleza em campo, o que chamou a atenção mesmo foi o figurino de Dunga, de casacão e gola rolê, by Hercowich.
Roupa de grife, sucesso no Twitter, onde foi chamado até de Napoleão.
Na rede social, o que virou hit é o o internacional “cala a boca, Galvão”. Até os excluídos digitais conhecem a campanha, que extrapolou as barreiras da internet e foi comentada até pelo próprio locutor.
São dois fenômenos. O visível é a irritação de milhares de brasileiros com o narrador de todos os esportes, especialista em soltar pérolas e repetir clichês, já esperados.
O que precisa ser estudado é a aversão que ao mesmo tempo atrai.
Todo mundo ataca Galvão e suas patriotadas. Todo mundo ouve Galvão, sem ele a Copa não seria a mesma. Amor e ódio, tudo junto. Como pode? Pensando bem, pode sim.
Ronaldo, aquele que já foi fenômeno, é o jogador que me vem a cabeça quando penso nos altos e baixos.
No futebol e fora dele.
É histórica a amarelada do jogador no dia francês que a pátria de boleiros ainda não conseguiu entender.
Ficará para sempre na memória coletiva o mesmo Ronaldo, cabelos no estilo Cascão, comemorando a redenção e o pentacampeonato.
Agora, quem entende de futebol fala em Raí quando analisa as dificuldades de Kaká na África.
Eu penso em Ronaldo, o garoto propaganda pressionado ao máximo para não decepcionar a torcida - e também os patrocinadores.
Bola, dinheiro, poder.
Já fui do tipo que associa sucesso em campo à política eleitoral. Já fui, essa aí ficou no passado. O “pra frente Brasil” não encaixa mais, não sem resultados práticos, comida na mesa, economia campeã.
Tudo junto. E misturado.
Hoje, quem dá prestigio a quem? O Dunga de cara feia ou o presidente que chega ao fim do ciclo presidencial com aprovação recorde, após anos tentando chegar lá?
Como diz o Galvão, aquele do cala a boca, no futebol não tem mais bobo não. Na vida real também não.

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