Uma hora e meia de chá de cadeira numa delegacia de polícia é suficiente para revelar uma triste realidade : é melhor nunca precisar da dita-cuja.
O chá de cadeira foi por causa de uma matéria. Sim, a informação poderia ter sido fornecida por telefone. Mas logo percebi: o delegado procurado não sabia responder o que perguntei. Então pediu para eu ir até lá, provavelmente para repassar a incumbência a algum subordinado.
Foi o que aconteceu.
Um investigador foi designado para me atender. Precisei esperar a tal uma hora e meia até a chegada dele da rua. Trata-se de um caso de crime virtual. A resposta: nós não apuramos isso. Por que? A polícia não tem estrutura para investigar crimes cometidos pela internet. Nem sabe como faz isso, praticamente não tem noção de como isso pode ser feito. Pelo menos em Bauru, na delegacia em que fui.
O funcionário público ficou um pouco acuado com a insistência das perguntas e foi falar com o delegado. Voltou com uma resposta padrão: estamos investigando, mas é difícil, a vítima precisar dar pistas. Vejam só: a vítima, além de ser vítima, precisar descobrir alguma forma de ajudar a polícia a fazer o trabalho dela.
Ainda precisei ouvir o investigador afirmar que, sem recorrer à violência, o que ele especificou com uma das mãos dando socos na outra, é difícil descobrir certos tipos de criminosos. Citou os pichadores, uma espécie de obsessão em Bauru.
Na hora e meia de espera, fui abordada por alguns dos presentes no DP, o que interpretei como vontade de conversar. Eu ali, parada, esperando, devo ter sido vista como um ouvido à disposição.
Um senhor, que já trabalhou na polícia, comentou sobre um antigo delegado de Bauru, já morto. Era conhecido pelo estilo, digamos, folclórico. E também por estar sempre na delegacia que chefiava. "Ele gostava da polícia", disse o senhor. "Gostava, gostava muito, gostava de verdade. Trabalhava até nos finais de semana. Aquele gostava", insistiu.
O delegado morto recentemente foi praticamente obrigado a se aposentar, parece que atrapalhava planos de alguém com mais poder.
A outra conversa foi com um senhor de roupas surradas, tênis e aparência sofredora. Contou ser dono de uma lanchonete. Passa, no momento, por um sufoco absurdo: um ex-presidiário recém-libertado vai ao local todo dia para comer, mas não quer pagar. E ameaça o pobre homem, que já pensa em se armar para não "cair primeiro". Meio incrédulo, ele foi procurar a ajuda da polícia. Registrou um burocrático boletim de ocorrências e saiu balançando a cabeça, como quem diz: "que mundo é esse".
Que mundo é esse?
terça-feira, 15 de setembro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
O Cheiro do Ralo
Descobri no final de semana. Sou uma ex-espectadora-que-preferia-o-cinema-ao-conforto-dos-DVDs. É não só por causa do tal conforto que minha opinião está em plena mutação, se bem que isso também conte.
É o seguinte: virei fã dos making offs, principalmente os brasileiros. E, no cinema, apesar de toda a magia da sala escura, da concentração total no filme, etc, não tem making off.
Um exemplo prático é "O Cheiro do Ralo". Gostei mais dos bastidores da produção do que do filme em si. Talvez precise assistir de novo após conhecer os detalhes. Por exemplo, as cores das roupas de Selton Mello foram escolhidas para lembrar a merda, que está presente no nome do filme, no cheiro que exala do tal ralo e na obsessão do protagonista, um homem apaixonado pela bunda de uma garçonete.
Fazer todas essas ligações e entender melhor a metáfora da história de um colecionador de coisas velhas, que não servem para nada, ou seja, merdas, no meu caso só foi possível depois de assistir o making off.
E é obrigatório conhecer a relação de Selton Mello com o filme, muito bem explicada nos extras do DVD. O ator leu o livro de Lourenço Mutarelli num avião, desembarcou e já ligou para o cineasta dizendo que queria, de qualquer forma, estrelar o filme. Precisou ser insistente para conseguir o papel, que define como o mais importante de sua carreira. Nos bastidores, aparece em cenas de entrega total e já com saudades, ao perceber que as filmagens estão no final.
A última cena filmada por Selton está no making off. Ele simplesmente deita na calçada, completamente emocionado, quando a produção chega ao final. Tem um impacto grande ver todo esse envolvimento de um ator. Principalmente em tempos de tão escassos envolvimentos, de tanta superficialidade.
É o seguinte: virei fã dos making offs, principalmente os brasileiros. E, no cinema, apesar de toda a magia da sala escura, da concentração total no filme, etc, não tem making off.
Um exemplo prático é "O Cheiro do Ralo". Gostei mais dos bastidores da produção do que do filme em si. Talvez precise assistir de novo após conhecer os detalhes. Por exemplo, as cores das roupas de Selton Mello foram escolhidas para lembrar a merda, que está presente no nome do filme, no cheiro que exala do tal ralo e na obsessão do protagonista, um homem apaixonado pela bunda de uma garçonete.
Fazer todas essas ligações e entender melhor a metáfora da história de um colecionador de coisas velhas, que não servem para nada, ou seja, merdas, no meu caso só foi possível depois de assistir o making off.
E é obrigatório conhecer a relação de Selton Mello com o filme, muito bem explicada nos extras do DVD. O ator leu o livro de Lourenço Mutarelli num avião, desembarcou e já ligou para o cineasta dizendo que queria, de qualquer forma, estrelar o filme. Precisou ser insistente para conseguir o papel, que define como o mais importante de sua carreira. Nos bastidores, aparece em cenas de entrega total e já com saudades, ao perceber que as filmagens estão no final.
A última cena filmada por Selton está no making off. Ele simplesmente deita na calçada, completamente emocionado, quando a produção chega ao final. Tem um impacto grande ver todo esse envolvimento de um ator. Principalmente em tempos de tão escassos envolvimentos, de tanta superficialidade.
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